Mãe - amor sem fim
Dona Ceiça fazia graça de qualquer coisa. Ria do que podia ser considerado desgraça por alguns. Recordo suas falas sarcásticas, suas risadas, as brincadeiras com todo mundo.
Tinha um aspecto feliz, parecia não sofrer. Era como se a vida não lhe oferecesse nada de tristeza. Claro que, bem me lembro, algumas vezes a vi chorando. E eu não entendia nada, não sabia porque sofria, e acabava sofrendo a dor que era dela, embora desconhecesse o motivo. Guardava consigo as dores, não deixava que percebêssemos.
Gostava de dançar. Lembro dela, pequenininha (tenho a quem puxar) dançando forró com meu pai. Se divertia muito fazendo isso. Em casa tinha sempre umas festas em que se reuniam os amigos para dançar a noite toda.
Outra coisa de que gostava muito era a música. Hoje assusto muita gente com letras antigas, e bregas, que aprendi ouvindo-a cantar. Ela “balançava os meninos” pra dormir e cantava pra eles.
Era muito querida pela vizinhança. Corria léguas para se livrar de confusão. Dizia que a pior coisa do mundo é um mal vizinho. No caminho até a feira, todos a conheciam. Era do tipo que ficava parando pra falar com uma pessoa e outra.
Sua veia interiorana a fazia majestosa nas tarefas do lar. O café que tomávamos era diferente. Nunca houve igual. Comprava os grãos e os torrava em casa. O tempero da comida, a galinha caipira que preparava, o “torrado” que fazia... era tudo muito bom. Fazia um arroz que ganhou o título “arrozim da mãe”, todo mundo queria raspar a panela de tão gostoso que era. Era um arroz cozido no caldo de galinha.
O cuidado com os filhos era evidente, preocupava-se com o rumo que tomariam suas vidas. Os nove clamavam por ela, pedindo-lhe a bênção para o que fossem realizar. E ela, claro, fazia questão de nos abençoar. E que ninguém ousasse responder a um chamado dela com um “o que é?”. Tinha que ser “senhora?”. Mandava a gente dobrar a língua.
Ah, eu lembro tanto do seu sorriso... Como lembro! E que falta daquela força em minha vida!
“Mãe só tem uma” - não se trata de poesia, essa fala. É a mais pura verdade. Eu que o diga!