Doçura mandou lembranças
 
            São seis bilhões de almas em cima do planeta.  Só na China, um bilhão e trezentos milhões.
            É muita gente vivendo neste cisco do Universo.  Cada qual com sua mania, ou modo de ser.  Muitas guerras, muitas lutas, fome, ódio.  Tudo isso enquanto damos um passeio sideral pelo Cosmo.
            Tem cabimento?  Claro que não.  Tudo neste mundo tem vida, e num dia ainda muito distante, o Sol vai findar, morrer.  Acabam os países e quem quer que seja, basta estar ainda vivo, suportando um frio que não podemos imaginar.  Dona Graça, ou Gracinha, como era chamada por todos, o que tinha de estranha, possuía de bondade.
            Sabendo que não poderia resolver a alimentação dos que na pequena cidade onde morava, fazia doces diversos, para aquietar a fome e dar prazer aos que na sua cidade morava.  Não era rica.
            Tinha no quintal uma plantação de abóboras.  A pensão que recebia do marido era curta, mas afinal o quilo de açúcar não é caro.
            Começou sozinha.  Conhecia uma receita de doce de abóbora de colocar o mais exigente gosto embevecido.
            Acordava muito cedo, o Sol ainda estava descansando.  O fogão e forno a lenha estavam disponíveis.  Descasava a grande e vermelha nascida no seu quintal, fazia procedimentos que eram transmitidos de mãe para filha há longo tempo, e em breve tempo o doce descansava na pedra fria.  Durinho e crocante por fora, um creme por dentro.  O destino, ela mesma levava, era a escola municipal e a prisão.  O falecido marido tinha sido um recluso, mas passemos por cima deste episódio.
            A criançada adorava o doce, e os presos, com café mambembe e pão fresco, a única alimentação que agradava, eram servidos de um doce bem grande.  Amavam a velha senhora, que viam pelas grades, levar tão delicioso quitute.
            Com o passar do tempo, Gracinha tinha uma boa quantidade de ajudantes.  Pessoalmente, todos colaboravam.
            O doce de abóbora ganhou coco, ficou mais saboroso, e foi introduzido também o de batata.  Sucesso!  Apareceu um jovem padeiro.  Também tinha o pai um ex-recluso.  Sabia fazer pães recheados, com linguiça principalmente.
            Existe até hoje, a cozinha de dona Gracinha.  Morreu há alguns anos, mas seus anjos, além de continuarem a obra, levaram-na para o lugar devido.
Jorge Cortás Sader Filho
Enviado por Jorge Cortás Sader Filho em 10/05/2012
Código do texto: T3661149
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