Toalhinha de crochê

“Quando vejo um pedinte na rua fico imaginado se fosse um filho meu.” Disse estas palavras sem olhar em meus olhos e seguiu executando sua tarefa, sem perceber que havia deixado uma grande emoção no ar, que, literalmente, inspirei.

Não sou favorável às homenagens que transformam esta condição da mulher num feito extraordinariamente difícil, praticamente um fardo. Tampouco concordo com a frase que diz que ser mãe é padecer no paraíso, e confesso que tenho vontade de fugir no meio das solenidades que, em vez de festivas, mais parecem um cerimonial de velório, pondo todos os presentes aos prantos, e algumas homenageadas (eu, por exemplo) aos soluços.

Gosto de pensar em mãe como um fenômeno natural. Tal qual a lua e o sol; a noite e o dia; a chuva e o estio... Coisas comuns a nós, sem as quais dificilmente existiríamos, contudo, necessitam mais de atenção do que de homenagem.

Mãe não é santa! Mãe erra, vacila e cai nas emboscadas da vida. Muitas vezes atrapalha, incomoda, e é culpada mesmo. Por isso, acho incabíveis as pseudo-orações maternais, praticamente apelativas. Vejam o compromisso que colocam sobre uma mãe, tão logo acabam de ler que ela é excepcionalmente isto, aquilo, e aquilo outro. Uma lista de itens imaculados que ela mesma vai grifando mentalmente com X vermelho: “neste eu falhei”.

Trocando em miúdos, prefiro ter, e ser, mãe com pouco alarde e nenhum sensacionalismo.

Por isso tomei a frase dita pela mãe que pintava minhas unhas como o fio da meada para tecer a crônica deste ano. Nada mais expressaria tão lindamente o barato de ser mãe do que o sentimento que vem de dentro, a partícula viva do que há de mais raro no mundo, amar incondicionalmente.

Quem mais olharia para um mendigo com olhos de preocupação? Enxergaria por detrás da cortina da imperfeição? Perceberia o que se esconde sob o peso do pecado e amaria sobre todas as sentenças e condenações? Sem dúvida, uma mãe.

Mas o grande engano parte daí. Amar deste jeito não é nenhum milagre ou feito santificado pelo qual devam se ajoelhar todos os filhos e agradecer. Sentir este amor que brota, simultaneamente, ao gerar um ser, é um presente, uma exultação, uma alegria indescritível, um êxtase, isto sim!

Mãe não é perfeita! É como a lua que desaparece quando bem entende e só volta quando quer. O sol que ora aquece e conforta; ora queima e extingue. A chuva que tanto salva, quanto afoga. O estio, por vezes, benção; por outras, praga. Como toda criação, é feita de poderes e de fraquezas. Porém, a ela (ouso dizer que exclusivamente a ela) foi dada a capacidade de sentir o amor verdadeiro, simples, puro e despretensioso.

Assim, para arrematar com esmero, a mãe que me inspirou é extraordinária como uma reconhecida obra de arte e, ao mesmo tempo, singela como uma toalhinha de crochê.

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Léia Batista
Enviado por Léia Batista em 10/05/2012
Reeditado em 10/05/2012
Código do texto: T3660309