Não sou nenhuma celebridade

 


 

Li uma crônica de Martha Medeiros em que ela fala que se sente confusa quando alguém a cumprimenta na rua ou no supermercado e ela não consegue se lembrar de quem se trata, pois tem dificuldade em reconhecer pessoas fora do lugar onde as conheceu. Desculpa-se dizendo que é um defeito de fabricação e não falta de educação. Eu tenho cá meus problemas, só que mais ou menos ao contrário. Boa fisionomista, ao ver uma cara conhecida cumprimento, seja com um sorrisinho ou um aceno, mesmo que naquela hora não me lembre exatamente de onde a conheço. E detesto ser ignorada por pessoas que teoricamente deviam me reconhecer. Porque já conversamos longamente no cabeleireiro ou em outro lugar qualquer, porque amigos nos apresentaram, ou porque moramos perto e já nos vimos mil vezes. Essas fazem parte da minha lista negra e para meu azar parece que me perseguem. Encontro-as por toda parte e elas passam reto. Dizem que são distraídas, que não enxergam direito, mas não acredito. Se fosse uma vez ou outra, vá lá... Algumas até fingem não me ver, percebo claramente, embora nunca tenha descoberto os motivos.

 

No entanto, para minha diversão, o mundo dá voltas e de repente, da noite para o dia, essas mesmas pessoas passam a me cumprimentar efusivamente, até puxam conversa sem que eu tenha movido uma palha. Da primeira vez que aconteceu fiquei intrigada, matutando... Mas finalmente entendi. A reviravolta se dá quando descobrem que faço parte das amizades de alguém que elas julgam importante. E lá na cabecinha delas, por analogia, imaginam que eu seja importante também. Perderam tempo em fingir que não me viam, só pode ser...