A leste
Os ternos e os longos vestidos que se arrastam pelo saguão não me impressionam. O ar resoluto de superioridade, com que maquiados olhos me recriminam da cabeça aos pés, não me desconcerta tanto quanto eu estar mirando o leste, e a leste a lua esteja a se me mostrar. Os cristais sobre as mesas, os talheres bem dispostos, o tapete vermelho, a decoração francesa, nada disso me seduz.
O carrinho de sanduíches do outro lado da rua, que me convida a sentir o frio desta noite sob os cuidados da lua, haverá de me contar histórias que me cubram de carinhos da cabeça aos pés. O carrinho de sanduíches do outro lado da rua se veste de jeans. Tem camisa de malha e tênis surrado. Tem o meu mesmo desalinho no olhar, a falta de jeito pra quase tudo e um certo ar de querer bem, um certo ar de estranho e eterno afeto.