A Metade da Maça
Vivemos a procura de nossas metades. Não fomos, não somos e não seremos inteiros.
Somos formados por personalidades próprias e únicas. Podemos ter traços assemelhados, mas sempre existirão diferenças entre nós.
Estas diferenças se evidenciam a medida da convivência. Quando tais diferenças sobrepõem as semelhanças fatalmente ocorrerá o rompimento.
E semelhanças são coisas colocadas no mesmo prato da balança. Tudo na vida tem que estar em equilíbrio.
Eu encaro a vida numa visão que pode ser classificada superficialmente como egocêntrica. Isto se deve ao fato de ver o mundo como um imenso sistema, formado por uma infinidade de subsistemas que se interagem e nos quais cada um de nós se resume. É como um carro, ele em si é o sistema, formado por um subsistema de alimentação (tanque de combustível, tubos, mangueiras,etc.) um subsistema de arrefecimento (ventoinha, radiador, etc.) e outros subsistemas.
Como um subsistema nossa dimensão é ilimitada, contida apenas pelo tamanho do sistema, mas são os subsistemas que o formam. Será maior ou menor conforme forem nossos conhecimentos, ambições, experiências, relacionamentos e uma infindável relação de fatores que se resumem no primeiro, conhecimento.
De nosso conhecimento depende nossa felicidade. O conhecimento próprio é praticamente impossível de se alcançar. Como um subsistema estamos continuamente expostos a infindáveis condicionantes que influenciam no nosso processo, vida. Os primeiros conhecimentos que adquirimos nos são dados pela “imitação”, vemos e repetimos o que vemos.
Nossa individualidade, estimulada pelo sabor de tais experiências, faz com que alteremos o padrão imitado criando um padrão próprio e é este padrão que será percebido pelos que nos circundam. Por sua vez os que nos circundam interagem conosco de forma própria e com motivações variadas, amizades, amor, paixão, profissão, interesses, etc. Por isso para cada pessoa somos um. Mas estas pessoas também se interagem e quando somos o foco procuram as coincidências de visões ou impressões para então nos personificar. Exemplificando, se conheço alguém em uma situação favorável e sou correspondido por um sorriso o primeiro registro que terei desta pessoa é de simpatia. Se por outro lado no primeiro contato a pessoa se coloca diametralmente oposta a uma colocação que fiz, minha primeira reação será de antipatia, ainda que saiba a necessidade do contraponto.
A partir do momento que fazemos a primeira “classificação” nossa mente funciona visando comprovar o que para nós se evidenciou. Se positivo, procuramos cada vez mais solidificar esta simpatia, em nós e nos que nos cercam. Se negativo, enviaremos torpedos, alguns carregados de boas intenções objetivando ofertar uma segunda chance, as vezes na presença de testemunhas, o que no fundo nada mais é do que querer comprovar a nossa primeira impressão.
Se repararmos em um tribunal no corpo de jurados, veremos ali resumido todas as condicionantes humanas. Aquela micro sociedade representada por sete membros será bombardeada por duas verdades, a da defesa e a da acusação e acreditando na pureza humana, para cada um dos lados, defesa e acusação, são verdades reais. Como eu e como você quando ouvimos falar em “pureza humana” passamos a procurar as falhas nos argumentos que visam provar a verdade e aí influenciados por um ou mais dos outros seis que comigo compõe o corpo de jurados chego a minha verdade e voto em uma das duas opções, culpado ou inocente.
O homem, raça humana, não foi feito para viver sozinho. Mas todos nós deveríamos vivenciar a solidão para então entender a importância do outro.
O outro nos é importante como fator de reequilíbrio. Se a nossa outra metade for espelho estaremos projetando e admirando nossa própria imagem. Se a projeção é de desequilíbrio não obteremos o que necessitamos, o paralelismo dos pratos da balança.
Geralmente o que procuramos nos outros são semelhanças: gostos, paladares, etc., ou o oposto, mas na realidade o que precisamos é aquela metade que zera o fiel da balança, quando tendemos a nos sob ou sobrepormos. É nas diferenças que adquirimos conhecimento.
Depois de vivermos um processo de solidão onde procuramos entender a razão alheia, ainda que a encontremos fica-nos difícil voltar a nos agregar, pois como tudo na vida o equilíbrio é duo e sozinho somos uno e, portanto desequilibrados.
Geraldo Cerqueira