Confissões de um louco

Hoje certamente será mais um dia perdido em minha vida. Melhor seria não ter acordado. Mas como acordei, deveria ter perseguido os passos bêbados daqueles que tentam enganar a si próprio e as próprias necessidades logo ao amanhecer.

O fato é que a vida me sufoca, não encontro razões para viver e nem passos para seguir os que vão à frente. O desejo que tenho é o de arrancar as vestes e cobrir a primeira estátua que encontrar. Penso que ela seja mais humana do que eu e merece ser protegida pelos deuses da felicidade. Embora esse devaneio nunca tenha vindo à tona (pois ficou retido em meus princípios éticos e morais), sempre tentei tirar o máximo de mim e cheguei à conclusão de que os meus inimigos foram e são mais geniais do que eu.

Em essência, vivo maquiado, escondido entre quatro paredes, mas isso não é tudo: cada um de nós fica enfurnado em seu próprio egoísmo. Esse conflito mortal entre o “ser” uma pessoa normal ou anormal é que está me sufocando e não me deixa decidir nada.

Na verdade sinto-me um ser desprezível. Deveria ficar acuado no meu canto como um animal qualquer. Nem sei se é por coragem ou por medo que estou aqui registrando esses meus percalços. De qualquer forma, eu poderia dizer que sou apenas mais um neste universo globalizado, onde disseminaram a miséria e a fome.

Sempre morei na esquina do tédio com a discórdia, sempre quis ser o meu herói de barro. Sei que existem riscos e que, muitas vezes é melhor permanecer no anonimato. Não pretendo ser um pensador, essa atividade é por demais, enganosa

O simples fato de estar vivo não significa ser sensível ou inteligente. Mergulhar de cabeça para dentro de nós mesmos talvez seja o que há de mais lúcido e assustador para qualquer indivíduo pensante.

Sou o resultado de todos esses conflitos sociais e morais que a sociedade embrutecida gerou e pariu. Não consigo me separar dos outros, pois estou atrelado a eles, assim como o fogo e a lenha. Não preciso de espelho para ver que me vejo em você, como me vejo, em minha própria sombra.

É verdade que ainda existo como indivíduo, sei dos meus atos, sei que ainda respondo quando me chamam pelo número do CPF. Também é verdade que joguei meu corpo na vala comum, mas não morri... ainda.

Pedro Cardoso DF
Enviado por Pedro Cardoso DF em 01/02/2007
Reeditado em 11/10/2017
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