Foi-se um tempo em minha vida...
Engraçado como o cotidiano é inspirador, seja para os que escrevem seja para os que proseiam. Chico Buarque tem uma música com esse título que em seu desenrolar mostra o cotidiano de um casal bem à rotina. "Todo dia ela faz tudo sempre igual..." Dia desses recordando de comidas passadas. Não sou medium e nem compulsivo sexual. Me refiro a arte da gastronomia. Assunto dos mais apetitosos de meu cardápio de prosa diga-se de passagem. Lembrei-me de um prato típico dos meus tempos de seminário. Tempo feliz e divertido onde vive seis anos. O ensopado de inhame de Dona Marta (Nome fictício).
Dona Marta tinha la sua altura máxima de 1,50 mts e um corpo corpulento como uma verdadeira Mama italiana. Mas só na aparência, coitada! Cozinhar era sua lida, mas lidava mal com os ingredientes. Cozinhar bem não era seu forte, ou no mínimo, faltava-lhe amor no preparo dos alimentos.
Mas seu ensopado de inhame era especial. Especialmente único. Junto do arroz e feijão era a única mistura do almoço. Arrancava-lhe à unha as cascas e a afogava-os em água abundante até que eles e aguá se tornassem uma única substancia leguminosa e viscosa.
Chegávamos da faculdade e após oração penitencial (Por força da fome) das Horas Médias do Breviário íamos com apetite de leão à fila indiana de prato e talher na mão esvaziar os panelões de alumínio de brilho impecável que assim os deixávamos pois a louça pós refeição era de nossa incumbência.
Após generosas porções arroz e feijão deitados em meu prato raso, deparava-me com o panelão de alumínio de ensopado de inhame.
Contemplava-o a gosto. Sentia o suave aroma que subia aos céus, melhor, ao teto. E ao contemplar tamanha iguaria vinha-me a mente as sábias palavras aprendidas no "Pastores Dabo Vobis" e nas exortações do Reitor sobre a importância de fazermos unidade, de sermos um com os outros, sermos um com Cristo.
A panela de alumínio brilhava de cinza e o inhame com a panela fazia-se um só, um só cinza por sobre a mesa. Um cinza só...