“Preto e Branco”.

Ninguém sabia seu nome.
Só encostou aquele minúsculo barco na doca.
Mesmo sendo uma época ruim, descarregou enorme quantidade de peixes.
Seu porte físico era de assustar.
Devia ter um metro e noventa, se não tivesse mais.
Negro como a noite, mas tinha traços suaves parecia um menino ou jovem rapaz.
Os dentes eram certinhos e alvos.
Os lábios eram grossos, mas não exagerados.
O nariz era chato, mas também sem exagero.
Pelo pouco que se conhece deve ser  Zambezy. 
Pela escassez de peixes, vendeu rápido a carga.
Depois entrou no armazém e comprou mantimentos.
Causava espécie, a roupa dele.
Pois usava um tipo de calção e colete de couro, como se fosse uma tanga indígena.
Não se sabe se era inteligente, mas não tinha cara de retardado.
Quando negociou os peixes, foi para a pequeno armazem das docas .
Comprou mantimentos, e quem conseguiu ouvir sua voz disse ser grave e forte.
Não tinha sotaque, mas demorava em formar as frases.
Tudo isto, era olhado por todos,  dissimuladamente, eram pessoas humildes e avessas a gozações.
No meio desta multidão, apareceu uma mocinha de no máximo quatorze anos.
Loirinha, parecia uma boneca de vitrine.
Corpo de mulher, em rosto de menina.
Vestido azul e sapatilhas brancas .
Cabelos cacheados enormes que pendiam até abaixo da cintura.
Olhou-o com curiosidade por ser tão diferente.
Ele sorriu para ela, que retribuiu.
Parece que um lampejo houve entre os dois.
Ele continuou carregando o barco e ela subiu uma rua de pedrinhas provavelmente em direção à sua casa.
Com o barco carregado, só faltava esperar a maré alta para ir embora.
Porém, como ainda estava na vazante, demoraria algumas horas para levantar ferros.
Nisso a loirinha retornou e começou a conversar com ele.
Aquilo foi motivo suficiente para alguns marinheiros que estavam no armazém, começarem a falar.
O demônio sai do inferno, vem buscar comida, a gente dá e começa a molestar nossas mulheres.
Quem falou era uma coisa insignificante.
Provavelmente nunca namorou e nunca iria casar.
Era o que chamamos de barril de pinga, só sabe beber.
Mas encontrou coro em outros que estavam com ciúmes da mercadoria embarcada pelo marinheiro.
Eles mal conseguiam trazer uma arraia ou pequeno cabeça de martelo.
Mal dava para fazer um caldo.
Além disso um preto e uma branca, onde já se viu.
Só que não havia acontecido nada.
Talvez em suas cabeças doentes, quisessem ter algo com a menina.
O rapaz apenas era gentil.
De repente havia em sua volta, aquela aglomeração falando impropérios.
Outro com um xuxo, de tasquear baleote, tentou cutucar sua costela.
Ficou desarmado e tomou uma paulada nas costas.
Agora o homem estava armado com o xuxo e ninguém mais tinha coragem de bater nele.
Ele entrou no barco e aprumou para as ondas.
Antes do barco se movimentar lançou o xuxo (arpão) com força.
A arma atravessou o pequeno grupo e foi quase atravessar a porta do armazém, ficando só a metade para fora.
De repente houve a calmaria, viram que se o rapaz quisesse teriam sido transpassados pela arma logo no começo.
O barco foi em direção ao mar aberto depois adernou a boreste e perdeu-se atrás dos recifes.
Noutro dia, os pais em vão procuraram à loirinha.
Havia desaparecido.
Parece que ela correu para os recifes, onde o negro pescador a resgatou.
Mas nada se conseguiu.
Dizem que lá pelo nordeste, longe dali.
Tem uma família linda.
Uma moça bonita, loira de cabelos lindos e compridos.
O marido é um enorme de um rapagão da cor da noite.
Atrás deste singular casal, andam três crianças.
Uma menina linda do cabelo encaracolado, louro também.
E dois homenzinhos morenos claros, de cabelos loiros e encaracolados.
O curioso que, vestem roupas de couro parecendo tanga  indígena.
Olhando para o mar pensei será que..., ora não vale a pena deixa para lá.
E a vida continua.
OripêMachado.


 
Oripê Machado
Enviado por Oripê Machado em 08/05/2012
Reeditado em 10/05/2012
Código do texto: T3657405
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