ÁGUA E PÃO - PRESENTE IDEAL PARA TODAS AS MÃES

Por esses dias eu postei uma mensagem que dizia do brilho do sol do meu querido Nordeste, das belezas do meu amado rincão. Hoje, pensando cá com os meus botões, eu resolvi analisar a minha euforia: será que há motivos para tanto entusiasmo assim?

Claro que o sol do meu Nordeste continua lindo! Que suas praias são de exuberante beleza. Que o nosso povo, de índole animada, continua dançando forró, maracatu, frevo, quadrilha e tudo o mais que vier pela frente. Mas há algo de triste, uma nuvem tenebrosa a apagar a alegria do nordestino:

Secam os açudes, os rios, os riachos. Os poços são insuficientes para fornecer água para abastecer o uso doméstico e saciar a sede dos animais. E sem água não há vida – não há evolução. A terra está esturricando. As faces dos homens e mulheres que trabalham nos campos estão marcadas pela dor e pelo sofrimento. Os rebanhos, os pastos, as aves, as árvores, tudo vai sendo consumido pela seca e voltando ao pó!

Reintegram-se à poeira deste mundo de meu Deus!

Sertanejos bravos que labutaram arduamente por anos a fio, juntam o que resta , reúnem os familiares e põem o pé na estrada, deixando para trás os sonhos que povoaram os seus corações. E é feliz aquele que pode contar com a ajuda de um parente, com o bolsa família, com as esmolas atiradas por uma multidão de caçadores de votos que dão com uma mão e tiram com a outra, aproveitando-se do sofrimento dos descamisado, dos sedentos, dos que enfraquecidos pela fome tornam-se presas vulneráveis à ação desses “deuses de barro” que abusam da boa-fé dos necessitados, amealham votos e ainda recebem louvores e agradecimentos.

No Brasil há projetos belíssimos, cheios de discursos emocionados. Há até um projeto para desviar a água do velho Chico para os estados nordestinos, denominado de “Transposição das águas do Rio São Francisco”. Notícias dão contam que ele avança em uns estados e está parado em outros. Canteiros precisam ser reconstruídos e construtoras abandonam as obras. O projeto, se não está parado, caminha a passos de bicho preguiça. Tudo vai ficando no papel e no discurso, até que o povo esqueça. Todavia, ele deve ser a galinha dos ovos de ouro para muitos interessados, muitos licitantes, muitos abutres que, indiferentes à dor alheia, aproveitam a oportunidade para multiplicar as suas fortunas, subtraindo de nosso povo o seu bem mais sagrado - o direito de consumir água.

Nessa época de eleições, melhor ainda; a seca vem a calhar. Ela pode dizimar os animais, o pasto e a família do nordestino, porém, decerto abastecerá de “verdinhas” o farnel de alguns carcarás que envergonham a nossa nação, exportando conhecimentos em falcatruas e todas as espécies de espertezas e contravenções.

Aliás, aparição em mídia como vítimas de catástrofes não é privilégio de nordestinos. De Norte a Sul, Leste a Oeste, o povo brasileiro é vítima de enchentes, desabamentos, seca, fome, falta de saúde, de educação e toda a desgraceira deságua numa vertente cheia de lodo, um charco criado por pessoas que são pagas com os recursos oriundos de nossos salários e, ao invés de defender os nossos direitos, empurram-nos para o despenhadeiro do atraso, conseqüência da vil corrupção.

É claro que existem homens e mulheres valorosos, dignos, capazes, bem intencionados.

Só que quase sempre têm seus projetos esmagados por aqueles que não estão nem aí para as responsabilidades que lhes foram atribuídas.

Todos os dias surgem novos escândalos. É impossível avançar em meio a uma enxurrada tenebrosa de desmandos e de apropriações de recursos, dilapidação de nosso patrimônio. Por acaso alguém já viu o dinheiro desviado por esses cidadãos ser devolvido, reintegrado aos cofres de nossa nação?

Às vezes aparecem umas migalhas porque a grana graúda já tomou um avião e foi passear pelos paraísos fiscais.

Quando era criança eu e a minha família morávamos em um povoado paupérrimo, numa casinha de taipa, de chão batido. Bem distante havia um rio caudaloso, limpo, cheio de peixes, livre de agrotóxicos. E mais próximo de nossa humilde residência havia uma pequenina fonte (cacimba) de água cristalina. Apesar do belo cenário, a nossa vida era muito difícil. Graças a Deus, esse tempo ficou apenas na lembrança, mas eu sei muito bem o que é juntar os mirrados tostões para comprar água. Já provei desse amargo cálice e não o desejo a ninguém.

Por isso, ao se aproximar o dia das mães eu peço a todos que me honrarem ao apreciar este meu protesto , que orem e agradeçam a Deus por suas mães, pelos festejos, pelos presentes e refeições em família.

Mas não se esqueçam de unir as mentes e os corações em uma corrente de amor e de solidariedade pelas mães de Uganda, Quênia, Etiópia, pelas mães que habitam os barracos, os guetos, enfim, pelas mães do mundo inteiro que hoje choram a falta de pão, de assistência, de uma vida decente para as suas crias; pelas mamães animais que estão morrendo de sede e perdendo os seus filhotes por falta de leite; pelas mamães passarinhos que vêem os seus pequeninos vitimados pelas queimadas.

E oremos também por nossos governantes e por todos aqueles que decidem os destinos de todas as nações.

Todavia, não fiquemos genuflexos e de mãos postas, em sinal de subserviência.

É necessário que façamos alguma coisa.

Precisamos gritar aos quatro ventos:

CHEGA DE CORRUPÇÃO!

Maria do Socorro Domingos dos Santos Silva

João Pessoa, 08/05/2012.

Mariamaria JPessoa Pb
Enviado por Mariamaria JPessoa Pb em 08/05/2012
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