A humanidade bem informada

Será que somos importantes para o mundo? Vejo todo esse movimento, todo esse barulho que fazemos todos os dias, toda essa atividade incessante e tão importante, que parece que o mundo foi feito para o nosso uso e abuso. Buracos do metrô desabam, por culpa exclusiva de alguém, guerras ocorrem e também há culpas a serem imputadas. A terra é escalavrada impiedosamente, coisa muito importante, os filões ocultos das riquezas que são nossos, sempre foram nossos, a disposição de quem tiver a iniciativa e a capacidade de ir buscá-los e o mundo roda indiferente ao que lhe fazem, como sempre foi...

Ah, se não existisse todo esse barulho, o mundo seria um lugar entediante, com o sol nascendo e se pondo, sem que ninguém o registrasse em versos, ou numa câmera digital, algo corriqueiro e sem graça. Caso não estivéssemos aqui para testemunhar a criação seria inútil, todos os fenômenos ocorreriam sem que nada se pudesse retirar deles, nem uma palavra, uma pequena palavra, um registro uma foto, um poema, que serventia poderia ter todo esse universo sem alguém para contar a história, e alguém para ouvir?.

E mesmo com a nossa presença no mundo, se as câmeras das televisões não flagrassem a cada dia, as explosões, os carros bombas, as rebeliões em presídios, as inundações, os tsunamis, as erupções da vida em torno desse mundo, o dia seria chato. Conversaríamos, no máximo com os vizinhos, para descobrir se ele foi feliz, ou infeliz, se a sua digestão foi boa, se ele foi ao banheiro, se ele amou. Nada que se pudesse colocar nos jornais, com letras garrafais, ou que se pudesse lançar nos ares com a música eletrizante de uma edição especial de telejornal.

Ah os jornais, os telejornais, os plantões permanentes das ce-ene-enes, como eles nos colocam a par de que o mundo está à beira do abismo, de que está tudo errado, de que o crime campeia solto sem punição. Mas não há o que reclamar é a liberdade de imprensa, está capacidade que a democracia é dotada de nos informar, de nos alarmar, como se a imprensa fosse o alarme do mundo que toca quando os perigos e as injustiças ocorrem. E como o mundo é muito perigoso, e cheio de culpados, o alarme está constantemente a tocar.

Como seria bom para esses presumíveis culpados pelas barbaridades que nos afligem, se não existisse alarme nenhum, seus atos condenáveis passariam em brancas nuvens, em silêncio, o silêncio dos culpados.

E nós dormiríamos em silêncio, sem saber o que houve no mundo, pensando na digestão do vizinho, ou no joanete da sogra, ou no sol que se pôs tão bonito hoje, crentes que somos felizes.