DELIRIO   E   DESESPERO 

    Pequena   aos  olhos  da  multidão.
    Na   vastidão   verde,  ela  está   imóvel.       
    Daí,  um   apito.      
    Começou   a  caçada.   Atletas  querendo   possuí-la,   enquanto  retida  ou  lançada,  alternando  direções.
    Velozes  homens  disputam-na,  valendo lances de ímpeto,  graça e magia.   No    espetáculo,  uma   vibração de sons misturados com gestos, enquanto olhos e nervos se fixam na sua trajetória.
    Sobre a grama, movida por cérebros e músculos, ela  agita  a  massa. 
    Esquiva ou presa fácil, recebe  pisões e chutes, - tratamento viril dos contendores na disputa pra  não  perdê-la.  Escapando,  se  metia além das marcas. Então,  recolhida,  de imediato  devolvida aos  ávidos  pés.  
    De vez em quando, um apito  para  trégua  na implacável perseguição.
    Jogadores e um estádio dividido entre torcedores se confrontando num crescendo emotivo, enquanto  uma  bola  é  levada  aos   chutes  em  direção aos arcos,   no vai e vem dos ataques.
    Então, no espetáculo aconteceu um lance dramático.
    Ultrapassando o risco de uma das metas, ela entrou. Aí, arrebentou parte da torcida.       Gritos sairam da garganta e do coração. Um chute, uma cabeçada,  não   vi  claramente  a feitura do hábil lance.   Mas,   escutei   um  frenético  excesso,  por conta  de  perda  e ganho.
    Entrementes, consumado o gol, a bola, junto às redes, fica  quieta, parada, enquanto a multidão se divide,  entre o delírio e o desespero.
    Furiosos, alguns torcedores xingam tudo, até a bola, sem culpa.
    Torcedores outros, eufóricos, porém ingratos, esquecem--na completamente para aclamarem o   herói.