Da potência ao impotente: dois lados de uma mesma moeda
É uma coisa interessante de se notar é como pequenas tendem a nos chatear e decepcionar quando menos esperamos. Especialmente de alguém que atua como um espelho, referência e guia durante toda a nossa vida nos mostrando o caminho das pedras na infância. Sim, me refiro mas especificamente aquelas que nos resguardam por nove meses: as mães.
Não há muito tempo, acompanhei uma decepção de uma mãe frente a um filho. Não que para ele fosse algo novo, afinal a constante falta de confiança e a insistência em perceber a sua maturidade já o aborreciam por uma vida inteira. Nesse quesito a solução encontrada foi ignorar tais atitudes e seguir a vida do melhor jeito que conhecia: com uma mochila nas costas e o coração ao vento.
O aborrecimento dele dessa vez era outro. Consistia basicamente em ver a hipocrisia existente na atitude de alguém que sempre esteve lutando contra doenças e passando por operações complicadas. Uma pessoa, cuja você não imagina encarando novamente uma mesa de cirurgia certo? Ainda mais por simples e espontânea vontade.
Infelizmente, não foi isso que aconteceu. A chegada da idade ao invés de trazer sabedoria parece ter potenciado loucuras. Especialmente, uma operação, nesse caso, desnecessária. Mas, lá foi alterar o seu rosto tão natural e belo, especialmente aos sessenta anos de idade. Justificou tal atitude dizendo ser: "para tirar as papadas".
Naturalmente, isso o indignou. A raiva e a tristeza predominaram em sua mente, ao notar tamanha atrocidade cometida por aquela outrora tão forte, lutadora, persistente, ou de maneira mais direta: potente. É difícil assimilar tamanha impotência de alguém a quem aprendeu a admirar.
Nesse momento, antes de sair quebrando tudo, resolve se comunicar com um grande amigo para expressar a dor e ter a certeza se estava ou não exagerando. Recebe a resposta mais simples e direta possível: "sim, ela se operou, você tá irritado, mas e daí? O que você pode fazer a não ser ficar puto? Você não sabe que ela ia se operar se quisesse do mesmo jeito"? Foi uma tremenda resposta. O deixou atônito e reflexivo, especialmente ao perceber como a vida se dá em grandes estalos, e mesmo aqueles donos de uma potência e uma voracidade imensa de viver, podem vir a ser impotentes. Podem se tornar cristalizados e limitados. Mas, isso não é motivo para não ama-los. Pelo contrário, é a razão para continuar a dialogar e conversar para que não venha a acontecer novamente. Afinal, acredito como Nietzsche na eterna superação dos homens e das mulheres.
Andarilho das Sombras