SÓ?

 

 
“Para não esquecer” ia ler de Clarice Lispector.
Mas “No meio do caminho tinha uma pedra”, que no caso, foi um cacho de uvas vermelhas, lavado e sem mais nada para o café. Carreguei.
 
Encaminhei sem pensar para o cenário de não esquecer, mas nada desejava lembrar. Pelo percurso, deixei o livro e a pedra e peguei um bloco e uma caneta. Deitada e apreciando cada bago de uva percebo que nada quero, como até fiz ontem com a Jovitinha.

Por mais velha que se fica a gente quer o novo. O novo dia.
A mudança e a novidade. São melhores.
Quero voltar para o meu computador.
E para as ruas do Rio.

Quero só isso. A Marília diria “_ Só?!”.

Mas eu, ao regar meus vasos da varanda e ver a peninha branca que um TINTIM deixou cair ali na terra molhada foi meio se ele a esquecesse para mim.
E este sentimento de peninha branca me encheu de coisas lindas e doces, de inspirações e um prazer delicado.


 
E isso é muito mais que o “só?!”.
 

 
MLuiza Martins, 6/04/2012
Palavras: 184