Boa índole e permissividade

Apenas como fator de comparação de momentos políticos do país, estou trazendo hoje um texto escrito, que encontrei entre papéis diversos guardados, objeto de devaneios momentâneos que então me ocorrera.

Embora inconcluso e assim devo divulgá-lo, pois, em alguns minutos transcrevi em papel de impressoras matriciais ainda, a minha indignação com o que ocorria naqueles tempos.

Casualmente naquela oportunidade estavam em minhas mãos os resultados de uma importante pesquisa, na qual era deprimente verificar a auto-imagem que o próprio povo fazia de si mesmo.

Era a época na qual o país todo estava às voltas com o impeachment do Presidente Collor de Mello. O grande engodo da nação!

Juntando esses dois fatores, explodia-me na alma uma enorme revolta com a situação do país e a escassez de meios para combater a forma como somos levados a essa situação de humilhação que é a nossa falta de educação.

Decorridos 20 anos dessa escrita, constatamos aquelas profecias e os efeitos de nossa má formação, quando hoje importamos mão de obra para ocupar espaços que deveriam ser de brasileiros bem preparados nesse espaço de tempo. Não se trata de nenhuma xenofobia, mas de uma necessidade de estarmos mais bem preparados. De que adianta um país economicamente viável se a ignorância ainda impera e continua fazendo vítimas pela exclusão social irrefreável. É muito triste verificar que as coisas não mudaram muito em relação a esse quesito, apesar de vivermos hoje um melhor momento econômico, graças a passagem pelo governo após esses tristes fatos, pois 2 anos depois, em 1994, tivemos o grande plano econômico denominado "Plano Real" de Fernando Henrique Cardoso (FHC), iniciado no Governo de Itamar Franco, vice que assumira o lugar do então deposto Collor de Mello.

Atribuo a esse feliz e rápido momento de nosso país, cuja economia foi colocada no rumo e alicerçado por mais 2 (dois) mandatos de FHC como Presidente, que como uma luz divina, pudemos começar a vislumbrar um futuro melhor, sem o pavor daquela inflação desenfreada, que naqueles momentos chegou a mais de 5.000% (cinco mil por cento) ao ano.

Após esse feliz governo, para alicerçarmos também a democracia, o povo elegeu um governo de oposição e o manteve, o reelegeu e este elegeu sua candidata com a qual convivemos hoje com um governo que nos causava medo e, se não foram até aqui dos mais brilhantes, teve o mérito de nesses cerca de 10 a 12 anos não ser levado ao impeachment também, dada a enorme quantidade de denúncias que rolam novamente soltas na media, sem que o governo e nossa pálida democracia fossem abalados.

Mas, lamento que com tanta força política, ainda fiquem de lado temas importantes como a verdadeira Reforma Tributária, a qual impede investimentos por pura falta de entendimento pelos investidores e por nós mesmos, a Reforma Administrativa, a Reforma Política, enfim, a série de coisas fortes e importantes que realmente nos faria um país de respeito internacionalmente, colocando uma pá de cal em nosso passado triste, onde passe a reinar o orgulho de sermos o melhor país do mundo para se viver!

Marco Antonio Pereira

Publicado no Recanto da Letras em 06 de Maio de 2012.

Boa índole e permissividade

É estarrecedor o que se vê e o que se ouve nos últimos dias nos principais veículos de comunicação do país.

Cá de um pontinho da imensidão deste país, onde a influências dos desmandos, incapacidades e irresponsabilidades dos nossos dirigentes e representantes eleitos, fere de forma impiedosa e irrecuperável nossa existência de cidadão, posto que ceifa-nos oportunidades, fico a imaginar se tudo isso terá um bom fim.

Uns dizem que tudo isso sempre existiu, a diferença é que atualmente são publicados sem nenhum pudor, e às vezes de forma inconseqüente, com danos irreparáveis ao país.

Nos bancos escolares, que freqüentei outrora, nos foi ensinado, e então ensinavam porque sabiam, que na era clássica dos estudos de fundamentos da democracia já era difícil a sua prática, posto que já requeressem abnegação e vontade de defendê-la e livrá-la das tentações novas e miraculosas formas de viver em sociedade.

No entanto, requer também de todo cidadão, para prática da cidadania, um mínimo de conhecimento, ao menos para que possa conhecer ou ver nos seus limites a fronteira dos direitos de seus concidadãos.

Na Grécia antiga, Sócrates colocara toda a sociedade influente como algoz de sua existência, e daí, para toda a humanidade mostrou lição de força, onde a sicuta fora mero instrumento, e até hoje as grandes idéias do mundo ocidental procura justificativas para absolver o grande réu, posto que o mesmo fora promotor de sua justiça. Desta forma, condenando-se, condenou toda a humanidade.

Conseguiríamos imaginá-lo hoje em nosso meio?

A citação parece um pouco perdida no texto, ou nos leva a exercício de falsa erudição, mas atualmente uma grande maioria da população não sabe ler, refletindo sobre o que está escrito, e essa grande massa de ignorantes é que deve levar o país ao seu caminho.

O futuro é, portanto, fruto da formação do povo, e, por conseguinte, não se deve lamentar o presente, que é o futuro de ontem, e se não é melhor como gostaríamos, espera-se ao menos que se consiga saber a sua causa, para que possamos redirecioná-lo a um porvir que contemple nossos herdeiros com boas realizações.

Mas como consegui-lo, se como uma Hidra, a constante evolução populacional infesta a cada dia o país de ignorantes, sem que o Estado tenha capacidade de administrar recursos visando combater essa praga?

Muito se tem dito sobre o problema, exemplo foi o 2º. Ciclo de Estudos da Realidade Brasileira, ocorrido em 08.10.1991, e de fato, nada se faz, nada acontece, e com certeza, o legado para o próximo século será o despreparo da população para enfrentar os desafios de um tempo onde reinarão as modernas tecnologias.

Exemplos vários são encontrados no dia a dia, advindos das mais diversas entidades e meios de comunicação.

Vejam também o alerta sobre a reforma tributária, que boa ou não, o mérito da análise é diverso, mas é preciso que se discuta o assunto de forma conclusiva.

Mas não, entre os diversos temas que decidem o nosso futuro, temos que desviarmos a nossa atenção para as notícias populares que cercam o planalto, com as maledicências de um imbecil, que diante de tanto a fazer procura tornar nossos cruciantes problemas mais graves ainda.

As notícias procuram envolver citações das esposas, da sogra, da mãe, das cunhadas e parentalha toda, que malditos sejam, parece-nos se comprazerem de tantas falácias, não conseguindo perceber serem os protagonistas de desgraça muito maior que fazer o povo rir da grotesca comédia circense.

Nosso povo realmente não merece tudo isso!

Quando o livro cair na alma, já dizia Castro Alves, quiçá poderá a população dar um basta em tudo isso. Mas qual, a poderosa Hidra que mencionamos é poderosíssima!

O atraso a que somos submetidos advêm da atenção dada a casos corriqueiros verificados no cotidiano dos guetos, cortiços e favelas, e nossos congressistas voltam-se a armar uma arena maior ainda, colocando de lado interesses do país, para tomar lugar de poderes civis de polícia que deveriam cuidar do assunto.

O povo passivamente convive com essa absurda e malfadada comédia, sem ter consciência que suas oportunidades de produzir, engrandecer, enriquecer a alma, o país e a tudo, são ceifadas a cada momento.

Essa humilhação toda tem que ter um final!

Para que não sejamos alvo de chacotas internacionais, urge que se faça preparar o povo, levando-lhe a pensar.

Tirando nossos cidadãos do ostracismo devido sua ignorância, poderemos almejar um futuro mais alentador. Há que se olhar para nossas escolas, onde imensos recursos são gastos em vão, e os aperfeiçoamentos, no entanto, devem obedecer a uma estrutura básica fixa. As nuanças político-ministeriais não podem em hipótese alguma afetar essa base.

Os estudos étnicos e sócio-antropológicos costumam etiquetar a boa índole do povo brasileiro, no entanto, através de uma pesquisa realizada verificamos que a auto-imagem é a mais deprimente possível e os aspectos negativos superam em muito as boas índoles etiquetadas, e observa-se que, apesar de positivos esses adjetivos, são ainda assim desabonadores e dão uma imagem de nação com falta de garra, de excessiva acomodação e complacência com a vida.

A imagem do país acompanha a imagem do povo: país e povo são percebidos negativamente.

... CONCLUIR.....

Marco Antonio Pereira

São Paulo, Julho de 1992.

MARCO ANTONIO PEREIRA
Enviado por MARCO ANTONIO PEREIRA em 06/05/2012
Reeditado em 05/05/2013
Código do texto: T3652380
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