O tal de João
Chamava-se João, que diferente de Márcio, tinha um nome que rimava com tudo, daí o fato dele ter tantos apelidos. Nenhum deles fugia à sua pessoa.
Numa sexta-feira à tardinha, João beberrão, chegou ao bar e disse:
- Seu Osmar!
- Fala negão. O de sempre?
O cão não é um cara de respostas, nem de perguntas, é mais um cara das ordens, então respondeu:
- Sim. E se não vier em cinco minutos vou-me embora!
Nunca terminava uma frase sem uma ordem, afinal era o João mandão: duro como uma pedra. Só uma coisa o afrouxava: era Janice, uma sueca loira de um metro e setenta, braços e pernas fortes e com um sorriso de derreter qualquer marmanjo. E como o vento chega ao outono, Janice chegou ao bar de “seu” Osmar.
- Oi seu Osmar, um milk shake de morango bem gelado, por favor.
Toda educada e com trajes atléticos, ainda cheirosa após horas de malhação, pedia nada-mais-nada-menos que um milk shake de morango. João, todo derretido, tentava criar forças para chegar até ela. Ele não é um homem de nervosismo, normalmente ele vai lá e resolve, mas com Janice, com Janice era diferente.
A turma que sentava ao seu lado na mesa logo percebeu que havia algo diferente. Sua respiração já estava alterada, suas entradas começavam a reluzir de suor e o pior: nem participou da discussão sobre o atraso das obras do Beira-Rio. Quanto todos se voltaram para ele, ele respirou fundo, terminou seu copo em apenas um gole e agiu:
- Atenção galera, lubrifiquem bem os olhos que o garanhão está prestes a agir.
Seus amigos o veneravam, era, de fato, um baita garanhão, por isso esperavam muito dele. Ele sabia que não podia vacilar. Tinha que ir até Janice, a convidar para dar uma volta e deu, fim de papo.
Porém, ao ver Janice, seu corpo já estremecia e sua mente parecia não controlar seu físico, era um momento crítico. Será que João, o macho, o forte, o sem-vergonha iria titubear?
Então ele novamente respira fundo, tentando controlar-se, toma coragem, e vai, passo após passo em direção ao balcão, balcão onde descansava a bela Janice, a mulher de seus sonhos, e não só dele, mas como de todos freqüentadores do bar do Osmar.
Ainda elegante ele senta ao lado da deusa, o público via, sem perder um detalhe, como um duelo de igual para igual, um duelo de gigantes. Mas para João, ele parecia nada perto da musa, um suco de ameixa perto de um milk shake de Morango.
Finalmente o primeiro contato acontece, Janice olha pra ele, ele olha pra ela, agora era só puxar um assunto, mas os dois permanecem apenas se olhando. Janice já avançava suas sobrancelhas querendo uma conversa, João sente o momento, mas titubeia. A galera nunca tinha visto João assim, o que aconteceu com nosso garanhão?
João olhou para seus amigos decepcionados, respirou fundo, e disse a si mesmo: É agora garanhão! Olhou para Janice de novo e disse:
- Hã…oi..hm…que tal uma volta na praça?
Janice, linda como era, com um olhar superior, uma cara de menosprezo o analisa durante no mínimo quinze segundos, e percebe o que todos no bar já percebiam: João não era mais o mesmo, suava feito um lutador de boxe e tremia como uma batedeira de 220 Volts. Então, Janice passou a mão em sua cabeça e disse palavras que João nunca mais esquecerá:
- Acho que não querido, no dia que você crescer você vem me procurar. Frouxa!
João ficou enfurecido e ao mesmo tempo maravilhado, nunca havia deixado ninguém chamá-lo de frouxa, mas mesmo nos mais terríveis momentos de Janice, ela continuava uma diva, uma rainha.
Antes mesmo de João esboçar uma reação, Janice já havia ido embora, embora junto com seus sonhos. João, cabisbaixo e com seu suco de ameixa na mão, resolve ir embora sem dar satisfações.
E já passado da porta ele ouve de seus amigos:
- Vai lá João, João Frouxão!
Era o fim de João.