Pois é, foi assim que aconteceu... Era um dia qualquer desses que nem chove nem molha, sem nada de especial, quando numa casa vizinha a uma solene catedral, eu vim ao mundo. Minha chegada, nada tinha de importante. Nem os sinos da igreja, sempre tão cantantes dobraram naquele longínquo 5 de maio. Era apenas e tão somente uma fêmea ( para frustração de meu pai ) chegando ao mundo, também sem nada de especial. Juntando tudo isso, aquí estou.
       Quando me pus de pé comecei a avaliar todo meu potencial que aliás resumia-se a um saco que me foi entregue pelo meu oleiro. O saco era grande e logo me senti pronta para enfrentar a batalha da vida. Estava armada de tudo que doravante usaria para enfrentar os embates que se fizessem necessários. Sentia-me forte e poderosa. Logo me veio a vontade motivada pela curiosidade de conhecer o conteúdo de tamanha preciosidade. Mas, lembrei de ter ouvido que só poderia abrir o saco quando se fizesse necessário já que seria impossível reabastece-lo. Ele era único e deveria ser usado aos poucos e com muito critério. Recomendava-se pensar bastante antes de fazer uso do misterioso matulão.
        Seguí em frente, ora caminhando lenta, ora lépida. Ora sofrendo, ora estúpidamente feliz. Ora gargalhando ora me debulhando em lágrimas. Era assim... Uma mulher de opostos. Mas, seguia minha caminhada atravessando planícies e abismos, ganhando e perdendo. Sempre me mantendo nas beiradas da vida, sempre nas enrrascadas, mas milagrosamente saindo delas.
           O famoso saco continuava a mim pregado. O tempo passava e nada de chegar a tão esperada hora de abrí-lo. Com o passar do tempo, a curiosidade aumentava. O que lá havia... O que me faria mudar?
          Um dia, o sol amanheceu mais brilhante, parecia encandear. Alguma coisa estava para acontecer e alguma coisa muito especial. Meu coração começou a batucar desordenadamente. O grande momento era chegado. Sem nenhum cuidado, rompí as amarras que prndiam o saco. Ele estava cheio de Amor. Quando notei, o amor estava se espalhando, correndo em todas as direções e desaguando num só foco, meu coração. Não havia como represá-lo. Ele havia escorregado pelo meu corpo e pregado no objeto a ele destinado. A felicidade era plena. Eu estava cheia de amor. Uma plenitude me encheu. Com o tempo, tudo foi se acabando. O Amor não resistiu ao desgaste, à falta de proteção e carinho, e partiu.
           E agora, o que fazer... Lembrei-me então que precisaria de mais amor para continuar minha jornada, mas meu oleiro disse-me: Lembra. Amor esgota, cansa, morre. Você não cuidou dele, não lhes deu a devida importancia quando ele esteve em você. Usou-o tido de uma vez, agora siga sem ele. Continuei, continuo, era, é necessário, mas sempre olho pra trás e tento ver se ainda restou um pouquinho que fosse. Triste engano. Nada mais havia.
       Quem sabe no próximo ano eu encontre o amor perdido...Nunca é tarde.

      ( ESCREVI ESSA CRÔNICA NO DIA 5 DE MAIO DE 2011. HOJE VOLTO PARA ENCERRÁ-LA, JÁ QUE NOVAMENTE É 05 DE MAIO DE 2012)

       Realmente nunca é tarde. Como estava enganada pensando que nada havia restado. Restou sim e quem sabe a parte mais preciosa  que só agora conseguí encontrar bem no fundo do saco. Dessa vez, serei mais atenta e cuidarei melhor de meu amor. Obrigada meu oleiro por ter me dado mais essa chance. Prometo que saberei retribuir. E viva a vida com suas surprêsas maravilhosas!