A dor que sai no jornal.
Na casa um fogão a lenha feito de barro.
Num canto da cozinha um gato quieto dorminhoco.
Mais ao lado se vê dois cântaros tampados com um prato e um pano branco com algum bordado, deve ser feito de saco de açúcar ou trigo.
Uma mulher mal vestida com um lenço branco na cabeça, sentada numa tarimba feita de madeira agreste. Na sua frente um repórter, um tanto sensacionalista, busca informação sobre o estupro da menina de oito anos, praticado pelo próprio irmão da menina.
Angustiante assistir e ver a descrição do ato pela boca do bandido, ali diante da própria mãe que chora desesperadamente. Pela porta da cozinha se vê um pé de arvore esquelético e desfolhado, com um cabrito preso em seu tronco, com algumas crianças perto dele como a brincar. Ao lado da casa na ultima sombra daquele escaldante sol nordestina, a câmera mostra uma velha senhora com cabelos brancos aparecendo sob o pano branco que lhe cobre a cabeça. Ela de mãos no rosto, chora desesperada, dando seguidas tapas na cabeça como não acreditando na tragédia familiar, o que fazia crer ser a avó da menininha.
Neste ínterim a senhora desmaia para espanto geral dos repórteres e policiais que fizeram a diligencia, momento que eles desviam o foco do bandido para acompanhar o desfalecimento da anciã. O que me causou surpresa, foi não sentir nos policiais a mínima habilidade de primeiros socorros, se limitando a conformar a família, dizendo que ela logo voltava a si. Como assim voltar logo sem nenhum atendimento de socorro?
Isto se passou numa cidade no nordeste da Bahia próxima ao Rio São Francisco divisa com Pernambuco. Fico a pensar de como é exposta a dor das famílias humildes pelos meios de comunicação, por saber que isto lhes rende bons pontos na medição de audiência.
Que país é este, que não se limita a exposição das dores das pessoas mais humildes?
É o país do vale quanto pesa, urge rever os valores da sociedade, resgatar o sentimento de família e buscar o controle de natalidade nos lares empobrecidos e embrutecidos alijados da partilha do bolo, cada vez mais restrita a poucos bolsos.
Toninho.
26/04/2012.