A TV NOSSA DE CADA DIA... Uma crítica à falta de ética
A TV nossa de cada dia
*Ricardo De Benedictis
Não há nada pior que a TV ligada nos horários de refeições em família.
É justamente nos programas exibidos por quase todos os canais de TV aberta, através da parabólica ou com sinal local, que recebemos as notícias mais fúnebres e aterrorizantes do dia. Assim, na lata. “Morreu assassinado na porta de casa em frente ao filho” e aí aparece a ‘imagem’ chocante, da criança chorando, debruçada sobre o cadáver do pai. Outros ainda são mais tenebrosos: ousam mostrar as vítimas sobre poças de sangue, algumas até sem cabeça ou sem braços e pernas.
Nós lutamos contra a censura, quando alguns energúmenos que fazem tais programas ou eram meninos ou sequer tinham nascido. Como bem declara a nossa ‘testemunha ocular do golpe de 1964’, Ubirajara Brito, filho ilustre destes rincões, “a ditadura castrou toda uma geração de líderes”. E mais: castrou também a nossa capacidade de indignação.
Como disse no início deste parágrafo, nós lutamos contra a CENSURA que o governo ditatorial impunha aos jornais, revistas, rádios e à TVs brasileiros. Mas a nossa luta não tinha em seu cardápio o ‘liberou geral’ posto em prática no intuito de alcançar audiência. É um verdadeiro massacre sobre nossas cabeças. Ficamos entre a cruz e a espada. Se ligamos a TV, temos que sentir náuseas, estressando-nos frente a toda sorte de horrores. Se deixamos de ligar, quem sabe, estaremos contrariando outras pessoas da família ou amigos que estejam conosco, pelo fato de que necessitamos de informações. É um verdadeiro ‘beco sem saída’.
Na programação da tarde, emissoras reprisam cenas de sexo em novelas que passaram às 21 horas. E alguns canais exibem mulheres nuas em filmes ou em programas pornôs que nem as prostitutas da Espanha ‘em greve de fome’ gostariam de assistir.
O Brasil é um país maravilhoso. O povo brasileiro é ordeiro, solidário e trabalhador. O que acontece, então, para vivermos com tanta mediocridade, tanta barbaridade, tanta falta de vergonha? Estas perguntas, se feitas na Argentina, a resposta seria: ‘a culpa é do governo’. Entretanto, como estamos no Brasil, temos de reconhecer que a culpa disso tudo é a nossa própria acomodação. A nossa perdida capacidade de indignação.
*Ricardo De Benedictis é jornalista