SOBRE O CELULAR
Na beira da mesa deixei o celular enquanto ajeitava o notebook. Não iria largar dele um só instante, sabia que se fosse ligar, seria hoje. Ou queria que fosse hoje. Não sei mais. Faz tempo que não diferencio o que é do que quero que seja. Começo a atualizar minha vida virtual pelos e-mails pendentes, mas são tão inúteis na sua maioria que o telefone ainda me desvia o olhar e a atençao. Termino com o gmail e abro o bloco de notas na esperança de que aquela página em branco seja preenchida por palavras e esvazie o que vem sobrando em mim.
Principio a digitação e as palavras fluem, desordenadamente mas fluem. Permito que assim seja. Quando dou por mim estou mergulhada em um mar de sentimentos pesados, contraditórios e absurdos. Paro. Começo a chorar e a tela embaça na minha frente. Penso em desistir, não dá para explicar em palavras aquela catarata de sensações que tentei digitar. Levanto e vou ao banheiro passar uma água no rosto e beber uma água para aliviar a garganta. Respiro fundo e decido recomeçar. Leio tudo que digitei, voltam as lágrimas, mas dessa vez sem o desespero anterior. Dou continuidade de onde parei e consigo chegar ao final. Novamente inspiro e fecho os olhos. Sim, fez bem passar por tudo isso. Fez bem chorar. Fez bem deixar sair.
Dou um pulo da cadeira, estava certa sobre ser hoje. O celular toca!