DESPUDORADA.
Deparei-me a bem pouco com um pedido de socorro, até o momento, ouço-o. Porém senti-me, naquele instante, na necessidade de declinar do auxilio... Observando naquele que pedia o deficiente cabedal de condições para alavancar, em situação auto-sustentável, os elementos necessários para o favorecimento, porque a ajuda não tem que literalmente ser a provisão momentânea. Claro, que existirão àquelas necessidades que perfeitamente se enquadram nessa condição instantânea. Contudo àquele pedido me fez reflexionar... Como ajudar? É condenatório o recuo diante de um pedido? Quais os limites do auxilio? E como favorecer visando o crescimento integral?
Como ajudar?
Seria simplesmente prover como, acima citado, de maneira momentânea e genérica, a fim de livra-se do apelo – É fecundo o campo das beneficências, a solidariedade alimentada pelo sentimentalismo, sempre ampara; o pão sempre àquele que tem fome, entretanto sem margarina ou manteiga, e nem pensar em requeijão, queijo, ou qualquer outro derivado – pois seria tudo isso supérfluo, ou talvez até demasiado para o paladar de quem está com o estômago nas costas – basta dar uma olhada nas cestas básicas destinas a este fim, inclua-se, as programadas pelo Estado e as adquiridas de acordo com o salário mínimo vigente. (Uma vez ouvi de um companheiro de trabalho, que zombava da situação vivida... Contou que, numa manhã bateu a sua porta uma senhora que trazia nos braços a filha, pediu algo para matar a fome, depois de algum tempo, lhe foi entregue um saco com alguns pães; em seguida àquela mesma senhora bate novamente na porta. Surpreende-se meu conhecido com a insistência, uma vez atendido o apelo, espantando-se ainda mais ao ouvir: “senhor, será que o senhor poderia passar um pouco de manteiga, entenda-se qualquer coisa do gênero, nesse pão, é que ela, a criança, não come pão seco...”) História extravagante... Contudo, o comportamento brincalhão do protagonista, contador do causo, é freqüente. Roupa aquém estar com frio - mas, “Deus que me livre daquele que pede o meu casaco caro que adorna o meu armário. E que depois de tantos anos ainda o conservo, guardadinh. Nunca foi usado. Guardo, também, a etiqueta para lembrar-me da loja que, já nem existe e do valor que paguei – Custou-me os olhos da cara e dá uma pena de usá-lo...!”.
Contudo, tem-se a prestação de ajuda que se produz pela razão, essa é a que, me traz à mente as reflexões – Devo ajudar. Entretanto, se faz necessário à reciprocidade, ou seja, é indispensável uma resposta positiva – Ex. : Aquele que for alfabetizado deve responder com a escrita e a leitura, não importa o nível de aceitabilidade, mas, que se vislumbre a partir daí, pelas partes, a progressão; o enfermo, por conseguinte, deverá necessariamente seguir a prescrição médica... Assim por diante. Sem, contudo, o agraciado ter que ficar às voltas com agradecimentos perpétuos a quem lhe socorreu.
Quão condenatório pode ser o recusar-se a uma solicitação?
Segundo o artigo 135 do Código Penal, brasileiro, a omissão de socorro consiste em: "Deixar de prestar assistência, quando possível fazê-lo sem risco pessoal...” Inferindo-se do mesmo artigo a descaracterização da omissão – “... Quando possível fazê-lo, sem risco pessoal...” A legislação tipifica e discrimina as exclusões. Todavia, ecoam nos labirintos da mente as ações levadas a efeito, assim como a inércia e as declinações arbitrando severamente lá no íntimo.
Quais os limites do auxilio?
Seria completamente incoerente limitar algo sem ter como base à definição do que se tem em mira – Auxiliar, prover e socorrer são ações correlatas e amplamente abrangentes; envolvem propósitos materiais e não raro transcendem esse campo. Em se tratado do estímulo moral, dos favorecimentos em prol da capacitação a uma predisposição virtuosa e do pleno crescimento do Homem. É pelo que se excedem, tais ações, que se torna quase impossível de se asseverar limites para tal fim.
E, é ainda, pelo mesmo motivo que se encontra meu pensamento remoinhando entre a minha declinação, a obrigatoriedade fraternal cristã e meus princípios morais e cívicos – Vislumbro-o num estado de atração e repulsão da razão x sentimento.
Não obstante, sem afastar-me de minha própria indagação: E como favorecer visando o crescimento integral? Sem muitas abstrações, vê-se a diário o crescimento de uma cultura que está se alastrando no meio da gente do meu país, da minha comunidade, e por que não dizer muito mais próximo, no seio das famílias - A dependência e o pedir estão, pouco a pouco, se tornando “ideologias” para alguns, e de modo sorrateiro sendo incitados, como se esses procederes fossem politicamente correto, na comodidade concretizam-se e alimentam espíritos fraudulentos tornando-os pseudopotentes, em virtude da troca de favores. Lamentavelmente a ação de pedir, observado-se de forma criteriosa, principia com um ato de submissão do pedinte, ganhando ares de graves ameaças e chegando em certos momentos a violência oral e até física. O silencio ou a recusa ao pedido vicioso é algo extremamente inaceitável por aquele que suplica.
Tendo em mente a criatura que solicitava, o cenário e interrogando-me desde o dado momento da ocorrência, comedidamente. Despudorada me encontro diante de mim, pormenorizando minhas dúvidas, no entanto, ainda convicta da minha maneira de conceber a prática de socorro - Ao amparar deve-se ser capaz de desenvolver, naquele que pede, o compromisso de crescimento pessoal pleno, que o leve a considerar sobre o próprio comodismo e a aceitabilidade das diversas formar de ajuda paternalista, condutas que esteriliza a capacidade de qualquer homem - ser rico em potencial, em especial o Divino – Força Motriz que movimenta e estabiliza harmoniosamente o universo e àqueles que o habitam. Além de levar o agraciado a conduzir-se condignamente sem ter que ficar às voltas com agradecimentos perpétuos a quem lhe socorreu. Efetivamente seria o - Dás com a direita, mas, que a tua mão esquerda não fique à espreita de reconhecimentos.
Muito embora assim acreditando devo concluir sob a autocrítica de que ao ponderar ganha-se muito, mas, em contrapartida perde-se valiosa chance de agir efetivamente – Que já não é relevante a reflexão, mas, o socialmente imposto. Infelizmente!