VAMOS AO SUPERMERCADO?

De imediato dona Marlene pensou: “pra quê ter acordado tão cedo?”. O supermercado lotado! Uma multidão tinha tido a mesma ideia que a dela. Que remédio? Pegou o pacote de açúcar que precisava. Em seguida se dirigiu ao balcão de frios. Que fila! Fazer o quê? Entrou no final. Dez.. sete... quatro... um... Ufa! Sua vez! Aliviada, encarou a moça de touca branca e pediu:

— Uma bandeja de muçarela, outra de presunto, por favor...

A moça apenas riu e apontou para a vitrine:

— A senhora mesma pode pegar, não tem vidro aí, não...

Já viu alguém rindo de si mesmo? Dona Marlene. No fundo, muito mais pra disfarçar a sem graceza. Então tinha entrado naquela fila quilométrica a-toinha? Tanto estresse, e tudo à mão, ali na vitrine? Ah, nem!

Saiu chispando com os pacotes na cesta, pensando no próprio “mico”... Ih, começou a crise de riso! Incontrolável! O povo olhando, sem entender nada. Ai, meu Deus! Pra despistar, parou em frente aos xampus. Foi quando uma velhinha magra e baixinha, olhando-a intrigada, indagou:

— A senhora acha graça em xampu?

— Eu?

— Uai, não tá aí, rindo pros xampus?

Mais essa... Viu a senhorinha balançar a cabeça como quem diz:

—Tem cada doido nesse mundo!

Deixou a “vovó” examinando um rótulo e escapou. Correu para outra fila... Desta vez, a do caixa. Firme e forte esperou a vez. Tinha acabado de passar o presunto e a muçarela, quando um senhor se aproximou e gentilmente a avisou:

— Olha, acho que o saco de açúcar da senhora tá furado...

Ela olhou para o chão e deu com a trilha fina e branca atrás de si. Gente, como é que não tinha visto aquilo? Constrangida, se voltou para a moça.

— Só um minutinho, sim? Vou trocar o saco furado...

A prateleira do açúcar? Lá longe, dando fundo pra outra rua. Heroicamente bateu em retirada, desta vez agarrando o saco de açúcar por uma “orelha”, a rasgada. Feita a troca, voltou correndo. Chi! A filona parada, a moça do caixa numa tremenda cara amarrada! Foi chegando e lá veio o desabafo:

— Vê se pode! Uma dona começou a passar as compras e sumiu...

— Sumiu? Como assim?

— Sei lá... Foi trocar... E eu aqui com o serviço empacado! O caixa em aberto, o povo esperando!

— É... Uai, por acaso, as compras dela não são essa muçarela e esse presunto, aí?

— Isso...

— Então, minha filha, “a dona” sou eu, viu?!

— Hã?

— Ah, deixa pra lá... Quanto deu tudo?

— 21,39...

Ótimo! Cadê o dinheiro? Dona Marlene tinha pegado a bolsa errada na hora de sair: a carteira estava na outra...