FICA SEMPRE UM POUCO DE PERFUME

As estações do ano passam tão depressa... Mal começamos janeiro e quando nos damos conta já estamos em maio. Famoso, eleito como mês das mães, das noivas e de Maria. Temperatura agradável, nem frio nem calor, nem muito sol, nem muita chuva, envolvendo todos numa atmosfera alegre. Mas qual o mistério e o encanto do mês de maio? Talvez seja porque neste período, podemos reencontrar e resgatar fragmentos de muitos momentos que vivemos e que formatam nossa história. Alguns episódios marcam nossa existência mais do que outros. Sim, pois sempre ressurgem em nosso cotidiano, como se ficassem espreitando, à espera da ocasião oportuna para aparecer.

Das muitas lembranças, algumas, sempre se manifestam especialmente nesta época. Lembranças da infância, que permanecem tão vivas, como aquelas vividas por tantas crianças... Mães sucumbindo diante dos filhos, num misto de tantas emoções. Afinal, qual mãe não se emociona diante das apresentações dos filhos? E por quanto tempo permanecerá a lembrança do gesto singelo protagonizado pela rosa? Lembranças da infância me levam ao palco. Ensaios contínuos para a apresentação na escola. Chegado o dia eu e minhas amigas de classe, mostramos o que de melhor tínhamos ensaiado, e ao final encerramos com a entrega de uma rosa vermelha.

É engraçado, naquele momento preocupava apenas em encantar minha mãe. Em minha pequenez tudo o que realmente podia oferecer de meu, era meu amor, a minha voz naquela singela canção e é claro coroar com aquele longo abraço tamanho do mundo. Lembro perfeitamente do olhar de minha mãe, seus olhos diziam o que as palavras não conseguiam comportar. Quanto amor! Quanta felicidade!

Enquanto entregávamos rosas, cantávamos uma canção: “Fica sempre um pouco de perfume, nas mãos que oferecem rosas...” O que eu não sabia, é que o intenso perfume das rosas daquele dia, ficaria para sempre...

Com o passar dos anos, fui constatando que a letra daquela canção continha uma mensagem extraordinária e profunda. Muito além da grafia, capaz de transpor todas as barreiras do tempo, e de tal forma apresentar-se diante de mim a cada mês de maio. Isto porque cada vez que este se aproxima, com todo o encanto e todo mistério que lhe é tão peculiar, ressurgem as memórias condensadas em imagens tão familiares que vão sendo resgatadas. Lá está para sempre, a mãe amorosa de cada dia. Oferecendo o café da manhã. Não um café qualquer, mas aquele com pão e manteiga e todo amor do mundo. O mesmo que fui retomando em cada gole de café pela vida afora... Almoços recheados com arroz e feijão, acompanhados de cumplicidade, lealdade, partilha. Entre os temperos da vida; obstáculos, conquistas, solavancos de placas tectônicas, momentos ácidos e caprichosos, mas talvez necessários. Mãos maternas sempre de prontidão, para rogar a DEUS, para abençoar. A mesma que cuidava, também curava servindo amor em formas de chás. Chás de tantas origens e sabores: camomila, hortelã, mais tarde a herança de gerações: cravo com pêssego e maçã, laranja, de limão rosa...

E a mãe que sonha e abraça, também amassa... E à massa dá formas diversas a pães frescos inigualáveis, exalando o cheiro fermentado pelos ares de todos os tempos... O colo aconchegante no inverno sempre confortado pelo delicioso chocolate quente. Do seu perfumado jardim em flores; cravos, lírios, dálias, jasmins, manacás, orquídeas, flores de maio e as rosas: mini, amarelas, brancas e as favoritas vermelhas... Lavandas perfumam a alma... Suspiros? De saudades, de doces... Doçuras que cutucavam os sentidos, que tanto agradavam aos olhos e ao coração.

Noites infinitas que ruidosamente juntavam ao redor da mesa de jantar, para saborear palavras sagradas; e depois peripécias encantadas em contos e epopéias paternais sob o olhar e a candura maternal. Daquele universo tantas coisas ficaram intactas... Fraternos sentimentos foram guardados em gavetas escondidas, como um tesouro precioso. Que tesouro maior, receber gratuitamente, sem cobrança alguma, tão grande de amor de mãe. Madre perpétua das lições que ficariam para sempre em forma de orações, leituras, canções, sonhos, risos e até mesmo tantas gargalhadas comprimidas.

Testemunhando a tudo, rosas trazidas do jardim. No centro da mesa, no meio da festa, exalando o perfume de uma infância feliz, perfumando lembranças por uma vida inteira. A vida passa, mas amor de mãe não. Amor de mãe é eterno. De tantas coisas que escapam depressa demais de nossa vivência, algumas felizmente permanecem. A vida passa depressa, mas da bela rosa, da RAINHA que passa pela nossa existência, FICA SEMPRE UM POUCO DE PERFUME.

Lúcia de Fátima Marques Peres

Maio/2011

Lúcia Marques Peres
Enviado por Lúcia Marques Peres em 02/05/2012
Código do texto: T3646373
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