O CHORO PERDE SUA VOZ

O CHORO PERDE SUA VOZ BETO MACHADO - 28/03/12 Quando da minha juventude a música brasileira era muito mais que MPB. Enfim, era mais música, era mais popular, era mais brasileira; e ainda lhe sobrava espaço para conviver bem com o jazz, bolero, mambo, rumba, tango, valsa, etc... Diferente de hoje, o rádio foi o grande difusor da criação musical da década de trinta até os anos sessenta, quando o que eu chamei de boa convivência começou a se deteriorar, num ritmo crescente só refreado nos anos noventa. Dentre os gêneros musicais brasileiros que douraram o som da minha infância e adolescência o chorinho foi o mais observado por mim. Inicialmente eu ficava extasiado com as per formas de Valdir Azevedo com o cavaquinho e de Jacob com o bandolim. Então descobri o chorinho cantado. Um deslumbre a voz de ADEMILDE FONSECA. Custei acreditar naquilo que ouvia. Era uma voz feminina, mas vigorosa; voz delicada, mas ritmada; uma mistura perfeita de velocidade e dicção inteligível. Enquanto não presenciei um show ao vivo daquela que viria ser “A RAINHA DO CHORINHO CANTADO”, não me libertei das dúvidas se aquilo era “obra da tecnologia”. Pois aquilo era real. Bem mais que isso. Era talento de altíssimo quilate. A partir daí me tornei um fã incondicional de ADEMILDE FONSECA. Essa maravilhosa cantora imortalizou inúmeras obras primas como, por exemplo, TICO TICO NO FUBÁ e BRASILEIRINHO, contribuindo, assim, para alavancagem do mercado fonográfico brasileiro e, em particular, os gêneros musicais da nossa terra. A música brasileira me tem proporcionado muitas alegrias, concomitante com alguns momentos de tristeza, quando da partida dos meus ídolos. Os últimos sete dias têm testado minha resistência emocional, no tocante a perdas. Dia vinte e três de março de dois mil e doze perdemos o gênio CHICO ANÍSIO. Na noite de vinte e seis do mesmo mês ADEMILDE FONSECA nos deixou. Não bastasse a dor do falecimento da RAINHA DO CHORINHO, quando eu me preparava para fechar esse texto recebi a cruel notícia da morte de outro gênio: MILLÔR FERNANDES, jornalista, humorista, cartunista e escritor. É evidente que depois disso ficou muito mais difícil para eu raciocinar ou escrever sobre qualquer assunto. Só me restando pedir ao Criador que reserve um bom lugar para o descanso dessas almas cujas personalidades brilharam, antes de desencarnarem.

Roberto Candido Machado
Enviado por Roberto Candido Machado em 02/05/2012
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