ABSORVENDO A CULPA

Volta e senta aqui, comigo. Retoma aquele momento em que conversávamos sobre estarmos em uma fase difícil, sobre o futuro ser incerto, sobre as dificuldades que tínhamos. Eu era tola e ciumenta e você era despreocupado e seguro demais. Tola por achar que estava certa em sentir ciúmes e despreocupado por achar que estava certo em provocar os ciúmes. Naquele momento nosso encaixe não aconteceu e desistimos. Poderíamos ter trocado as nossas peças, ter nos ajustados, ter ao menos esperado até conseguirmos. Mas houve um desgaste, de ambas as partes. E naquele ponto foi difícil continuar, por isso aconteceu o fim. Foi um fim que pedia reinício, que implorava por novo começo, mas não escutamos. Encerramos o ciclo como se fosse o término definitivo e esquecemos de tudo que nos prometemos, de tudo que nos juramos, de tudo que nos construiu. Hoje restam as memórias, as dores nas feridas ainda abertas e a insensibilidade daquelas cicatrizes que se formaram. Realmente é fato que a oportunidade perdida não volta e é esse o erro que me consome em culpa. Mesmo os dois sendo culpados, a minha parcela é só minha e somente eu a carrego. A consciência dessa culpa rasteja comigo como sombra costurada em minha alma, que vagueia de dia, de noite e até quando não sei as horas da vida. E outro dia se finda e entra pro calendário do tempo nosso perdido. Apenas o meu tempo continua. E meu tempo é só meu, passo por ele e com ele, sozinha. Nosso tempo acabou e deixou apenas recordação do que ficou e do que foi. Em mim. Em nós.