PREDADORES IV

Quem foi menino no Recife na época em que eu era moleque de rua, sabia onde encontrar um beta (Betta splendens), aquele peixinho que não exige nada além de um pouco d’água e larvas de insetos para viver e reproduzir.

Bastava uma lata com água para se tornar o animal de estimação de qualquer moleque que, projetando no animal o gladiador que dorme dentro de si, colocava num só aquário, dois machos para brigarem até a morte de um deles, se não forem separados.

Em vida livre, esse pequeno guerreiro é capaz de controlar as populações de vários insetos hematófagos, entre eles o temido Culex quinquefaciatus transmissor da terrível doença conhecida popularmente como elefantíase, a filariose, que é provocada pelo entupimento dos vasos linfáticos pelo nematoide Wulkereria bancroft, a popular filaria.

Mas, como sempre acontece, por causa da explosão demográfica da população humana, os córregos antes limpos onde viviam os betas e os mosquitos faziam as posturas, hoje são esgotos a céu aberto onde o beta não consegue mais sobreviver e os temidos insetos foram beneficiados pelo mal habito dos humanos inconsequentes que atiram em qualquer lugar copos descartáveis, sacos plásticos, garrafas que acumulam água de chuva.

É a concretização do ditado popular “está criando cobra para ser mordido por ela” e o pequeno, mas eficiente predador, hoje está confinado em aquários onde aficionados pela aquicultura ornamental garantem a manutenção da espécie.