A precarização da saúde!

Paciente x Médico, Médico x Empresa: qual o paradigma destas relações? A banalização da saúde, a promoção da ´doença´.

GOSTARIA DE PROPOR UMA RE-FUNDAÇÃO

NA RELAÇÃO MÉDICO – PACIENTE

QUE NÃO FOSSE MAIS UMA RELAÇÃO DOMINANTE

QUE SE TRANSFORMASSE EM EFETIVA PARTICIPAÇÃO.

Que ao invés de paciente, se chamasse atuante,

Que a relação se fundasse nos pilares sólidos da compreensão

Da solidariedade, do respeito mútuo e, fosse assim pactuante

De uma nova forma de práxis médica.

Que se busque todos os meios para minimizar as dores

Mas que os avanços da tecnologia não nos torne credores

De outras dívidas, além do custo social, a da perda da identidade

De cuidador e cuidado, limitados pela venda dos planos de ´saúde´

Desde Hipócrates, o discurso de formatura

De defesa implacável e promoção da vida

Se choca ante aos escusos interesses do capital na doença

Fonte essa de todos os lucros e comércio que tantos nos avilta

A cada dia que passa, é mais desigual o acesso

Às maravilhas modernas na engenharia genética e aos medicamentos

Aos transplantes de células-tronco e avanços da nanotecnologia

Tudo depende de quanto se está disposto a pagar na fatura...

A mercantilização da medicina,

Coloca-nos diante de um limbo

Não mais de um outrora consagrado Olimpo,

Pois esta banalização em agentes de um negócio nos transforma.

Como pode a vida virar um artigo de mercado, uma mercadoria?

Como revitalizar a tradicional relação médico-paciente

Ante aos patamares aviltantes de uma relação médico-empresa

Como cuidar da saúde, ante o paradigma da doença, dominante?

Quando os cuidados com a saúde deixam de ser Dever do Estado

E passam às mãos dos inescrupulosos senhores do mercado

A vida humana se torna um farto shopping de procedimentos

Ditados pela sanha de venda de serviços ´médicos´

Quem estará preocupado com a promoção da saúde?

Quantos de nós avaliamos o custo-efetividade e a real utilidade

De tantas intervenções medicamentosas e cirúrgicas?

Afinal, quanto vale cuidar da vida, em seu sentido pleno?

Afinal, o quanto isso é prioridade

Para discutir em nossa sociedade

Impregnada por valores de consumo?

Ou para os empresários, agentes públicos, governo?

Enquanto isso, o paciente

Não consegue sair das teias que cerceiam sua alteridade

Submetendo-se compulsoriamente aos elevados custos

Da fatura mensal, comprometendo seus recursos parcos

Porquanto, nós médicos

Nos submetemos aos ditames do mercado dos planos e seguros

Abrindo muitas vezes mão de nossa própria dignidade

E afinal acabamos como cúmplices do mesmo sistema que oprime.

Urge mudar este quadro

SAIR DA RELAÇÃO MÉDICO-EMPRESA ULTRAJANTE

PARA UMA RELAÇÃO MÉDICO-PESSOA EDIFICANTE

Em outro paradigma, da ética e do valor humano.

Hipócrates certamente baterá palmas para tão ousada iniciativa

De médicos, professores, ´consumidores´, políticos, governantes

Que a clausula da Constituição, saúde como dever de todos

E obrigação do Estado, não seja apenas pétrea como dantes...

AjAraújo, o poeta humanista, escrito em fevereiro de 2007, refletindo sobre o caos do sistema de saúde e as relações mercantilistas com o bem maior do ser humano: a sua vida.