Para deixar de ser metido a esperto

Era uma terça-feira e eu estava num daqueles dias de pouco movimento no meu consultório/casa, ou casa/consultório, depende da ocasião. Como era um dia de semana em horário de expediente vai ser consultório/casa, quando estou fora do horário de trabalho e nos fins de semana vira casa/consultório. Só que isso, se é consultório/casa ou casa/consultório, não é nem um pouco relevante no que eu vou contar aqui, serviu mesmo para encher linguiça, e o texto não ficar tão curto, e também achei que iria ficar engraçado, muito provavelmente você, leitor, percebeu que não ficou nada engraçado, no entanto, se você chegou até aqui, talvez, não se arrependa de continuar lendo, eu disse talvez, não é garantido que você goste. O que vou contar logo em seguida é realmente engraçado, porém, na hora foi muito constrangedor para mim. Chega de lenga lenga e vamos aos fatos. Eu estava no site do flamengo lendo algumas reportagens e comecei a cantar “vai pra cima deles mengô, oh oh ô” repetidas vezes, quando minha mulher chegou e ficou me olhando com uma cara engraçada, eu parei de cantar e perguntei o motivo daquele olhar, então ela perguntou como eu podia estar alegre se o meu time tinha perdido no domingo e sido eliminado do campeonato, e uma semana antes também tinha saído de outro campeonato. Eu falei a ela que era assim mesmo, que futebol é paixão, um dia agente tá irritado, no outro já esqueceu, e torcer pro mengão é muito mais do que perder ou ganhar, e continuei falando todas aquelas coisas que todo torcedor doente e insano fala. Num certo momento eu disse:

_O único problema é que estamos de férias, só vamos jogar no dia 20 de maio, e com esse tempo todo de ócio o dentuço vai se esbaldar na putaria. Disse isso sem perceber que minha filha de cinco anos estava ao meu lado, na cadeira de balanço – ela deveria estar na escola, mas, por algum motivo, que eu não lembro agora, ela não tinha ido. Ela imediatamente tirou os olhos da televisão, do Patati Patata, e perguntou:

_O que é isso, papai?

_Isso o que, filha?

_Isso que o senhor falou.

_Putaria?

_É. Ela respondeu. Aí eu quis dá uma de esperto, sair com uma tirada, e me safar da besteira que eu acabara de cometer. Só que a emenda saiu pior que o soneto. Eu falei a ela que putaria era uma festa de criança com bolo e muitos balões de encher. Ela arregalou os olhos, fez cara de alegre e falou:

_ Então vamos pai, vamos lá pra putaria. Fiquei muito sem graça na hora e tive que explicar o que era a palavra, sem dizer o verdadeiro significado da palavra. Entenderam? Nem eu, e acho que nem ela também. Enrolei prá lá e pra cá, embromei tentando descobrir o que dizer. Enfim, eu disse que era uma palavra feia de se dizer, e que eu pedia desculpas por falar aquilo pra ela ouvir, que a palavra era um palavrão, e que eu só tinha dito aquilo por que não tinha visto que ela estava ali, e bibibi, bobobó, caixa de fósforos, ferro elétrico, geladeira, blablablabla... Ela pareceu entender, e prometeu não repetir a dita cuja. Essa não foi a primeira vez que eu falei nomes impróprios perto de minha filha, também acho que não seja a última, sou um boca suja juramentado. Estou tentando melhorar e espero que ela não repita as bobagens que eu digo, ate por que tenho outra filha mais nova, de um ano e dez meses, e não quero ter outras duas boquinhas sujas aqui em casa, já basta a minha.