A PEDRA - 54
A grande pedra rolou morro abaixo, foi solta por uma rajada mais forte de vento, ou por uma revolta da natureza, quem sabe... Rolou, feriu, matou, mas ao acabar sua força, ao chegar lá embaixo, estancou, parou e a ninguém mais atropelou.
Já a outra, a pequena, rola furtivamente, clandestina que é, não para nunca, não perde a força, continua sempre, ferindo, machucando, viciando, matando.
Ao acordar, o homem, aturdido, sob a chuva, não se reconhece mais, vendo -se naquela miséria absoluta, pensa, “afinal, ainda sou gente ou não passo de um animal?”
- E agora, o que faço comigo mesmo? A chuva me despertou, me acordou de meu sono sepulcral e tenho que ver no que a pedra me transformou.
- Por favor, gritou... Juntem todas as pedras de seus caminhos, as joguem sobre mim, mesmo soterrado por elas, sem respirar não será tão ruim.
Se fossem pedras de gelo, as veria sumir...
Se fossem pedras do espaço, as veria uma cratera abrir...
S e fossem as da vida, as veria alguém ferir...
Mas esta, a maldita, aprisiona, amaldiçoa, só quer destruir...
E na madrugada chuvosa e fria, neste momento de lucidez e sofrimento, pensa no que perdeu, a família, os filhos e no que se tornou, um escravo do vício, sem moral, sem sonhos, e sem vontade de voltar, de retroceder.
Quase sem forças, chorando, cambaleando, levanta-se e sai a caminhar, descalço, pouca roupa, na chuva... Rogando a DEUS...
Uma pedra...
No caminho...
Para tropeçar, cair e até me machucar...
Mas que ao de novo acordar, tenha uma mão amiga para me amparar...
Socorrer e ajudar-me a novamente levantar...