O Veado da Catedral Basílica

Jorge Linhaça

Não sei o que se passa comigo, mas parece que meus olhos são atraídos por coisas inusitadas nos lugares mais inesperados.

Hoje não poderia ser diferente, em plena catedral basílica, enquanto aguardava a apresentação da orquestra sinfônica jovem, fiquei observando a abóboda da igreja e sem que nem porque, lá estava ele, me sorrindo, só podia ver a sua cabeça no meio de tantas esculturas, mas, não conseguia desviar meu olhar daquele veado. Olhei por toda a abóbada, esperando encontrar outro animal qualquer, mas que nada! Só o veado estava ali representado, olhos fixos em mim, com um sorriso abobado.

O que afinal das contas fazia um veado na catedral?

Claro que já vi cordeiros em igrejas, inclusive ali mesmo havia um em um dos nichos. Mas um veado? Que diabos fazia um veado em plena abóboda da catedral?

Minha atenção ficou dividida entre o veado, uma linda menininha no banco da frente que ficava brincando comigo e a orquestra.

Minha companheira não conseguia conter o riso cada vez que me via fitando o veado.

No fim das contas acabou a apresentação e acabei por me esquecer de perguntar o que aquele veado faz ali. Sinceramente duvido que alguém saiba me responder, aliás, duvido até que alguém já tenha se dado conta do bicho.

É como o monumento do Campo Grande, onde um artista desavisado resolveu que quarenta em algarismos romanos deveria ser escrito com quatro “X”. Isso mesmo XXXX. Pior que ninguém parece ter se dado conta disso até hoje.

Ah, esses meus olhos que sempre me surpreendem.

Mas o veado na abóboda da catedral é demais. Não consigo imaginar o que ele está fazendo lá.

Duvidam? É só olhar o lado direito da abóboda, logo após o enfeite principal que fica no centro da mesma.

Um veado, um veado na abóboda. Quem diria?

Salvador, 28 de abril de 2012.