O FIO PENDENTE


Essa hora o avião já pousou em Nova York, e minha filha e genro, devem estar no táxi a caminho do apartamento.
Ontem, no final da tarde os levamos para o aeroporto. São Paulo, parecia mais uma cidade fantasma, marginal vazia, fomos e voltamos em uma hora e meia. Em dia normal, gastamos mais que isso só pra ir.

Já sinto falta da voz alegre e querida de minha filha, que todas as manhãs liga, quando está indo para o trabalho, pra dizer: "Mãeeeeee.... bom dia". 
Essa madrugada acordei com o barulho gostoso da chuva, e fiquei pensando que, um pássaro prateado estava levando em suas asas, minha doce menina. Parece que ouvi a chuva me respondendo: "é só por quinze dias".

Tratei de me animar, falando pra mim mesma, que os dois irmãos vão ter duas semanas, pra matar a saudade. Os dois casais terão oportunidade de curtir juntos as delícias da cidade de Nova York. 
Assim tentei voltar a dormir, mas custei, a insônia me pegou. 
Me lembrei que, quando eles voltarem de viagem, somos nós que vamos, quase no dia seguinte.
Aí, estarei dando alimento para a alegria em rever o filho, mas a saudade da filha estará pronta pra me atacar.

Coração de mãe, é mesmo um caso de polícia. Creio que, na hora de cortar o cordão umbilical, um fio invisível fica pendente. Ele, é suficiente para manter a saudade em constante movimento.



(Foto da Autora)




Lenapena
Enviado por Lenapena em 30/04/2012
Reeditado em 30/04/2012
Código do texto: T3641234