O CHORO DE LUBLIANKA  (cenas do cotidiano)


Ela chegou com os olhos rendados. Clamorosa, deixou as lágrimas prantearem na queixa à mãe que, sentada, mantinha os olhos mais voltados às agulhas do crochê que propriamente ao apelo da filha.
--- Mãe! Ele fica o tempo todo cantando aquela musiquinha dos “anão” com o meu nome! Apontou para o menino que se aproximava da cena.
--- Que mal tem isso, menina? Redarguiu          , surpresa, a mãe.
--- Sabe como ele canta? A sra. é por que não sabe!
A mulher pôs de lado os instrumentos de seu passatempo e encarou a mocinha.
--- E como é que ele canta?
Lublianka segurou momentaneamente o choro; contrafeita, cantarolou para a mãe:
--- Lulú, Lulú, eu vou lalá, lalá!... Isso, mãe, da “manera” mais indecente! Prorrompeu em choro.
--- Ora! Ora! Ora! ... Venha cá, seu moleque!
E as mãos da matrona voaram num salto em busca das orelhas do garoto, que se escafedeu pela porta.
Às vezes, a distância entre a realidade e a evidência imaginada não é tão grande, mas quando se requer uma boa rima, insinuada, encurta-a. Tal o caso.
(imagem google)