QUERO ACHAR UMA UNHA HUMANA NA BATATA FRITA
Quando criança, eu ficava excitado com a possibilidade de encontrar uma figurinha premiada dentro de um pacote de bolacha. Nunca tive a sorte de fisgar tal tesouro. Agora, adulto, tenho um sonho: abrir um saco de batata frita e encontrar uma unha humana. De preferência em bom estado de conservação. Delírios à parte, minha fé é inabalável. Um dia ainda serei alvo deste milagre.
Será a minha senha para faturar uma bolada de indenização. Sou muito atento a esta possibilidade. Vasculho cada milímetro do pacote em busca de uma unha ou qualquer outro fragmento humano. Não sou muito exigente: contento-me também com outros objetos como besouro ou larvas. Desde que sejam capazes de se transformarem em mote para um processo na Justiça.
Há pessoas que jogam sem parar na Mega Sena. Outros apostam somas vultuosas em fórmulas milagrosas como a multiplicação dos ovos de ouro de avestruz. Não boto fé nessas empreitadas. Meu negócio é comprar batata frita e esperar o dia mais afortunado da minha vida. Além dos quinze minutos de fama, sairei de tal peleja com a conta bancária mais gorda.
Há uma coleção de casos que funcionam como um amuleto para manter intacta a minha fé. Em 2007, uma consumidora gaúcha extrato de tomate. Foi indenizada em R$ 10 mil. No Rio de Janeiro, uma mulher foi surpreendida com larvas de inseto em uma barra de chocolate. Ganhou R$ 30 mil. Um rapaz, também carioca, mastigou uma barata pensando que era uma batata frita. O caso ainda está sendo julgado, mas não tenho dúvida de que o jovem será indenizado. Também no Rio Grande do Sul, uma mulher achou uma unha humana dentro de Hot Pocket Sadia. A Justiça condenou a empresa a pagar R$ 5 mil à cliente.
O que para muitas pessoas se configura em uma tragédia constrangedora, para mim, é apenas uma oportunidade de ganhar dinheiro sem fazer força. É minha chance de revanche contra a infância. É a figurinha premiada tardia que eu não soube encontrar.