Mulheres a Vista e a Prazo.

Se você tem uma dívida e liga pro credor pra dar-lhe uma satisfação, é como se 50% dela fosse paga. É por isso que meu amigo Luciano liga duas vezes. Segundo ele, isso quita o débito de vez.

Há senso de humor maior para se tratar um problema! Claro que o caráter é primordial na escolha de uma amizade, mas não ganha do senso de humor. E Luciano tem os dois. Aliás, se eu fosse relacionar aqui os quesitos de meu amigo, não poderia falar de outras coisas. Há um ditado popular que diz que quando uma pessoa é muito fofoqueira, na sua morte há que ter dois caixões, um pra língua e outro pro defunto. No caso do meu amigo necessitaria de três: ele, o coração e o bom humor. Luciano é um desses caras que você não pode descrevê-lo facilmente com palavras, só conhecendo-o. Posto que eu não sei escrever, fica mais difícil ainda.

Todo amigo acha que você é bom em tudo que faz. Eu não sei escrever e ele diz que já sou um imortal da academia. Na cozinha é a mesma coisa. Nas baladas ele não vê outra coisa senão as mulheres olhando pra mim. E dai Luciano solta aquelas: O meu velho, aquela mulher tá te dando uma “seta”, pô e aquela outra, olha lá. Ninguém olha pra você e ele acha que você arrasa. Quantas vezes, do nada, ele aparecia com uma mulher pra me apresentar, como se ela estivesse interessada, mas não era nada disso. No fundo todo amigo não quer ver você sozinho. Esquecem que você tem cinquenta anos e se comportam como os pais fazem com os filhos, levando-os em casas noturnas e cuidando pra que você, ainda menino, conheça as peripécias do sexo oposto.

Falar em sexo oposto, há outro ditado popular vulgar e mentiroso que diz que quem tem amigo é puta. Então me sinto como uma super-profissional do sexo porque tive muitos e bons amigos por toda vida. Primeiro que prostitutas não permitem aproximações amigáveis. Quem é homem e chegado nessa “profissão” sabe disso. Segundo elas, se você se mostrar muito amigo é porque quer o “serviço” de graça, sem pagar. Experimente ligar pra uma e sugerir que você só quer sair para conhecê-la, pra um jantar ou pra um misancênio qualquer, aquela conversinha. Ela pode até topar, mas você pode ter certeza de duas coisas:

1-Ela vai te dizer o valor antes.

2-Não espere nada amigável, será tão frio como jantar com uma porta.

Luciano resolve essa questão dividindo as mulheres em duas espécies, aliás, em três. Há as “a vista”, que como o próprio nome diz, são aquelas que você acaba de conhecer e mal terminam o jantar saem a procura do primeiro motel. E as “a prazo”, diz o especialista, são aquelas que dão um pouco mais de trabalho e leva um tempo pra se concretizar o “ora-veja”. E a última são as que falam “nois vai” e “nois fica”, segundo ele, essas são dispensáveis. Não há nada pior em uma mulher, depois da “vacilação”, do que a que diz nois vai e nois fica. E eu não vou dizer que meu amigo está errado. Até porque outro dia foram lhe dizer umas barbaridades ao meu respeito, e ele, como bom amigo retrucou:

- Nada disso, vocês podem até estar certos, mas meu amigo está mais!

E o pior é que o que foram falar de mim era a mais pura verdade.

- Amigo meu não erra. E Gerson está acima do bem e do mal. Diz ele.

Claro que isso é um absurdo e há que ter o bom senso, mas assim é Luciano. Por isso não posso dizer nada a respeito de mulheres a vista ou a prazo. E também não creio que as feministas tenham alguma objeção com relação as declarações de meu amigo. Acredito que as mulheres tem piadas um pouco mais apimentadas com relação a homens. E cá entre nós, não há maldade nessa afirmação. No fundo toda relação tem essa característica do agora ou do daqui a pouco. E pra encerrar esse assunto, meu amigo, apesar de canalha, é um cavalheiro com as mulheres.

Voltando ao bom humor de “lu-barriga”, os outros o chamam carinhosamente assim; outro dia me deparei com um daqueles problemas do qual você sozinho não pode suportar, desses que não fosse por amigos você já estaria morto. Ele, depois de me ouvir, calou-se por uns instantes, me olhou atentamente, tomou mais um chope, balançou a cabeça pensando no caso e balbuciou algo como se de sua boca fosse sair uma pérola. E saiu:

- Liga não meu velho, há bares que vem para o bem.

Segundo ele, no fim do mundo, quando a última bomba explodir, só restarão dois tipos de “viventes”: Homens de bom humor e as baratas.

E ele se refere as baratas dizendo que se salvarão tão somente pelo seu senso de humor. Essa história de que baratas tem resistência acima da média para a radioatividade é folclore. Elas sobreviverão porque riem mesmo, porque são de boa. Detalhe: há uma lenda que diz que Luciano, depois de um porre, e depois de ver tudo o que os porres mostram, viu uma barata contando piadas pra outra.

Mas o fato é que depois desse há bares que vem para o bem, estranhamente e porque não dizer milagrosamente, senti como se meu problema nunca tivesse existido. E na verdade não há problemas, nós o criamos, como uma necessidade. Segundo sua teoria, a técnica numero um pra se resolver um problema é esquece-lo. Se não conseguir, deixe que no dia seguinte as coisas se resolvem. Pense noutra coisa, tome mais uma, dance, ouça uma musica, durma, descanse. O tempo é o senhor das coisas. Mas pra perceber isso e pelo menos agir dessa forma há que ter o amigo, se não há o amigo, há problemas, e alguns, sem solução. O sujeito que não tem um amigo não tem uma vida. Acho que a pergunta número um que as empresas deveriam fazer em entrevistas de emprego deveria ser quantos amigos o sujeito possui.

Nenhum! Reprovado.

Poucos! Vamos pensar no assunto.

Seu amigo é o Lu-Barriga! Aprovadíssimo.

Luciano tem um bar – ironia né - e naquela tarde bebemos todo o malte da Escócia juntos. Nessas horas, como todos sabem, há aquelas de tomar mais uma, de ir mas não vai, de ir ao banheiro e abre outra, aquela coisa toda. E eu já decidido a ir, de pé, saindo e ele solta outra:

- Velho, vamos abrir outra, quem não bebe não treme.

Vinicius tem uma coisa muito legal que escreveu sobre amigos que diz o seguinte: “A amizade é um sentimento mais nobre do que o amor, eis que permite que o objeto dela se divida em outros afetos, enquanto o amor tem intrínseco o ciúme, que não admite a rivalidade. E eu poderia suportar, embora não sem dor, que tivessem morrido todos os meus amores, mas enlouqueceria se morressem todos os meus amigos”.

Luciano pra mim, e com certeza pra todos que o conhecem, é um desses amigos.

GersonRsilva
Enviado por GersonRsilva em 28/04/2012
Reeditado em 30/04/2012
Código do texto: T3638100
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