QUAIS SÃO AS SUAS INTENÇÕES...?
 
Minha avó materna era uma pessoa maravilhosa. Até hoje sinto seu cheiro, lembro do seu jeito de andar, seu riso, sua voz ainda ecoa pelos ouvidos do meu coração. E minha saudade (dela) é do tamanho do universo! Se ela estivesse aqui eu diria: Meu amor é do tamanho do universo. Lembro-me de muitas vezes que deitei em seu colo e ela mim fazia cafuné. Ficava a falar da minha vida, e ouvindo suas histórias de caboclo que até hoje me faz rir e sentir muita... muita saudade desses momentos!

Cresci com ela pelos momentos de minha vida; do nascimento a vida adulta. Quando criança era meu tudo, mãe, avó, amiga. Na adolescência minha guardiã. Guardiã porque quando estava a enamorar alguém, era ela que fazia a seguinte pergunta: “Quais são as suas intenções para com minha neta?”, não sentia vergonha ou ficava chateada, ao contrário, eu avisava – oh, vamos pros meus pais te conhecer, mas antes, minha avó vai conversar com você. E deixava o interessado ciente que o mesmo iria passar por um interrogatório! Ah, minha avó, que saudades!

Ela começava perguntando o nome; nome de pai, mãe, se trabalhava, onde morava; e por último a pergunta mais esperada – “Quais são as suas intenções para com minha neta?”
Nesse momento era um festival de frases incompletas... Bom... Sua neta é... Bem... Eu gosto muito dela... Minhas intenções são... Hahaha - Ai, ai, meu Deus! Que saudades! Eu ficava do lado só ouvindo, e lhes confesso, mim achando o máximo! Hahaha. Bom, não lembro se ela reprovou algum; acredito que não, já faz tanto tempo, nossa!

Eu sei que nos tempos atuais é cafona, careta! No entanto, iria adorar ter minha avó aqui, agora, junto a mim, fazendo esse interrogatório para algum candidato que se interessasse a me namorar... Rsrsrs. Acredito que fui mal acostumada, já sou adulta, mas continuo sem saber escolher, ainda não aprendi...!

Ops! Vou falar a verdade - tudo isso é só uma desculpa para falar dessa mulher maravilhosa, que foi tão importante na minha vida; e que, hoje, não sei por que a saudade me deixou assim: Com vontade de seu colo, dos seus atos de bravuras que só tinha como intenção salvar sua neta de algum aventureiro!

 
E melhor de tudo isso, é que, em meio a tantas netas; eu era sua neta preferida, e, portanto, a mais cuidada. Espere! Um detalhe; a neta preferida de sua filha mais nova (minha mãe), pois é, quando digo que minha avó era uma pessoa maravilhosa, não estou exagerando, seu coração era coração de mãe/avó, tinha um lugar especial para cada neta, e não eram poucas. No entanto, só os meus pretendentes eram submetidos a um interrogatório; pela minha saudosa avó!

De todos os momentos que passei com minha avó, só tenho que agradecer. E se fosse possível, queria bis!Bis! Bis em tudo; em audição de suas frases sábias, seus conselhos, suas histórias que só eram duas; porém quando ela as contava, era sempre novidade; mil vezes ela as contasse, mil vezes eu as ouvia como se fosse à primeira audição. Pois, me fascina história de época, causos, e na verdade eram dois causos que ela costumava contar. Apesar de ter ouvido tantas vezes a narração desses causos, não sei contá-los como ela o fazia... Um deles era relacionado às dificuldades de ir de uma cidade a outra, pois, não existia transporte, e também acomodações. Hoje, temos hotéis, pousadas; antes nada disso existia, nas décadas de 20, 30, principalmente no interior do interior...

 
Pois bom, vou tentar contar esse causo... rsrsrs

Antes se viajava de onze ou a cavalo... Hospedagem era nas casas ao longo do caminho, segundo minha avó, naquela época se dava dormida as pessoas sem precisar de RG, e tudo mais... Bem vamos ao causo, Jesus me ajude!
Como era comum se dá dormida naquela época, um caboclo que viajava já algum tempo, em determinado ponto da viagem chegou a uma fazenda, na qual foi pedir dormida... Estava na varanda da casa, um senhor. O caboclo se aproximou e disse: - Boa tarde. -Boa tarde, caboclo, o que o traz a minha casa? O caboclo meio sem jeito... É bem, He, He... Eu queria passar a noite aqui... O dono da fazenda... nem olhou pro caboclo e disse: Se acomode, pode armar sua rede onde quiser... Depois do jantar, o caboclo foi procurar um lugar na casa para armar sua rede... Procurou, procurou... Cadê! A casa parecia casa de gigante! O lugar onde o caboclo conseguiu armar sua rede foi nas pernas da mesa...! Pois bem, no outro dia o caboclo foi agradecer a dormida e o dono da fazenda disse: Caboclo que não tem rede de verdade não deveria pedir dormida em casa de homem...! O caboclo ficou muito chateado, mas seguiu sua viagem. Passaram-se alguns anos; o caboclo voltou, e foi pedir dormida, na mesma fazenda. O dono da fazenda ficou a rir, lembrando da rede do caboclo e disse: Procure um lugar para armar sua rede... O caboclo começou a desenrolar a rede... Deu volta dentro de casa... Saiu pela varanda, percorreu toda a varanda para poder armar sua rede... No outro dia o caboclo foi agradecer a dormida e disse: Homem que não tem casa de verdade não deveria dá dormida a caboclo!
 
Espero que, quem ler essa crônica entenda o causo e se possível der algumas risadas... Acredito que consegui contar o mais próximo possível de como minha avó contava... Hahaha...

Eu não sei quais são as intenções de vocês, mas a minha, era e é, homenagear essa mulher que foi a minha avó (Maria Pessoa da Silva), corajosa, honesta, amiga, sábia, trabalhadora, e de uma sabedoria intrínseca que só mim enobreceu; foi sua sabedoria intrínseca que me ensinou a ver, a sentir a vida com o coração, sem esquecer que a razão também se é necessária para a vida se fazer maravilhosa!

Mas me respondam com toda sinceridade – “Quais são as suas intenções...?”.

Edna Maria Pessoa
Natal-RN, sexta-feira, 27 de abril de 2012.