As caixas de sapato da vovó

 

 

 

Quando comprei os sapatos, a moça perguntou se eu queria a caixa. Ia dizer que não, depois mudei de ideia, achei que era boa para guardar fotos. Além do mais bonita, azul-marinho, sem nada escrito. Na volta pra casa fui pensando nas delícias de abrir uma caixa de fotografias. Quantas emoções a gente revive! Quantas lembranças gostosas! Quanta risada ao ver a cara dos nossos antepassados em poses sisudas. E nós jovenzinhos com penteados esquisitos. E aquelas pequenininhas, em preto e branco, de quando éramos crianças... E as das nossas crianças, então? Aninhadas nos braços da mamãe, fazendo micagens no ombro do papai... Sorrindo juntinho à vovó e ao vovô...

 

E as modernas, essas tiradas com máquinas digitais, perfeitas e maravilhosas, tão maravilhosas que não escondem nem mesmo as nossas mínimas ruguinhas? Lindas de se olhar. Mas... onde estão? Boa pergunta, embora saibamos todos a resposta: no computador! Ou, como diz uma amiga, no cemitério das fotos.

 

Pensando bem, ela tem razão. Sentar sozinha diante da tela e ir clicando não tem a mesma graça. Fora as que eu já perdi por causa de pane da máquina. Bom mesmo é ficar junto com outros em volta da mesa, ou sentados no chão, e ir passando as fotos de mão em mão. Todos têm um comentário a fazer. Além das perguntas: quem é essa aqui?... Onde vocês estavam?... Quando foi isto?... Quantos anos você tinha?... Mil histórias são contadas, mil casos relembrados. E repassados...

 

Por isso, já comecei a mandar revelar nossas fotos mais recentes. Estão disponíveis no computador, é claro, mas também ficarão bem guardadas em algum armário. No futuro, quando meus netos abrirem as ‘caixas de sapato da vovó’ vão se divertir.




(*) imagem daqui