"Um estranho no ninho"?
Se te encontras num ambiente que consideras completamente avesso às tuas expectativas, aos teus valores, à visão que tens de mundo, de perfeição, de equilíbrio, de serenidade... muitas vezes te indignas e até te revoltas, pois este ambiente como que te afronta, te agride. Estes teus sentimentos, estas tuas sensações não estariam de alguma forma existindo porque tu, não serias o objeto estranho, avesso a este ambiente?
Já parastes pra pensar, refletir, que talvez tu estejas ali pra provar a veracidade dessa perfeição, dessa serenidade, desse equilíbrio que pensas ser possuidor, e que reclamas por não encontrá-los neste lugar que julgas teu? Já parastes pra pensar que talvez a vida seja muito mais complexa do que pensas? Que vivemos numa teia em que cada parte dela é intrínseca na outra, tornando-nos apegados ao que está à nossa esquerda, à nossa direita, à nossa frente e nas nossas costas, que não conseguimos ser nós mesmos, únicos, como querem afirmar os que se dizem mais sábios, mais estudiosos no assunto?
Teriam as montanhas, verdadeiramente um começo e um fim? O que temos de conhecimento do universo, a não ser a certeza de sua infinitude? E se este universo é infinito, ele não tem começo nem fim. E o que somos nós senão mais uma parte deste universo? E consequentemente, algo sem começo e sem fim? Basta que observemos o ciclo da chuva que nada mais é, que o vaivém da água, e o que somos nós, senão o vaivém de nossos pensamentos, de nossas impressões, de nossas existências?
O segredo está na complexidade ou na simplicidade? Já que o homem insiste em se dizer proprietário de uma superioridade sobre os demais componentes da natureza, mas que se pensarmos um pouco, superior a que? Já pararam pra pensar que os morros convivem sem disputar espaço? Que as árvores também convivem, nascem, crescem, florescem sem disputar beleza, grandeza? Só o bicho homem não consegue viver se não estiver a cada momento, tentando provar sua autoridade sobre o outro, sobre a natureza que o cerca e da qual depende, e ainda se atreve a se autointitular de transformador da paisagem, numa transformação que apresenta um equilíbrio temporário, pois o curso das águas que ele muda, por exemplo, na maioria das vezes reclama sua origem, e esse equilíbrio desaparece dando margem às catástrofes, ao sofrimento deste mesmo homem, que ainda não aprendeu o significado da palavra respeito. Respeito à vida, ao céu, ao mar, ao ar, enfim, a tudo que no universo há!