TRAGÉDIA OU COMÉDIA?


Por culpa do advento do classicismo renascentista, que tornou conhecido os gêneros tragédia e comédia, hoje não sei o que escrevo se tragédia para purificar sentimentos ou se comédia para focalizar uma situação cômica e ridícula.

Penso em tragédia, mas fogem de mim as condições necessárias, além do mais teria que seguir a lei das três unidades: tempo, espaço e ação. Tempo, já não existe. Espaço, é imensurável a distância entre o eu e o tu. Ação, esta esbarra na causa e efeito, o corpo já na atua sobre o outro.

Apelaria para o drama, então? Talvez com as minhas “lamúrias”... Afinal, o que o caracteriza não é a exploração dos sentimentos humanos? Se não tenho argumentos próprios recorro ao  lirismo de Camilo Pessanha, pois é sabido que a dor de ficção comove mais que a dor real, assim para “impressionar”, poderia então confessar: “Tenho sonhos cruéis; n’alma doente / Sinto um vago receio prematuro / Vou a medo na aresta do futuro, / Embebido em saudades do presente”.

Sabe, acho que estou mais para o tragicômico e bem me cabe  o papel de “Pagliacci”, para tanto, buscarei   em Leoncavallo o seu “Ridi, Pagliacci e em súplica pedirei que  transforme em brincadeira o tormento e o pranto  e em uma careta o soluço e a dor ...

 
 
Zélia Maria Freire
Enviado por Zélia Maria Freire em 27/04/2012
Reeditado em 27/04/2012
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