ASSOBIO
Estava eu sentado num banco de um enorme pátio durante o intervalo do café do meu serviço e observando alguns trabalhadores que se esforçavam em deixar a área limpa e escutava um mavioso assobio vindo da parte de trás do banco.
Virei a cabeça para observar quem estava assobiando aquela linda canção e fiquei surpreso quando o trabalhador braçal interrompeu a canção para desejar-me um bom dia. Retribui o bom dia e fiquei a imaginar o porquê das pessoas não mais assobiarem.
Lembro-me do meu pai quando estava barbeando-se assobiava lindas canções, do velho comerciante encaixotando frutas e assobiando e até eu também assobiava algumas músicas.
Será que não mais assobiamos pelo motivo da poluição sonora romper nossos sentimentos? Ou perdemos a alegria diante do cotidiano?
Um velho hábito que ainda sinto muita falta, ver as pessoas assobiarem alguma canção e expandirem a alma enquanto deixam-se carregar pelo tempo em busca do amanhã.
Fiquei ali por algum instante observando e escutando o trabalhador assobiar aquela linda canção enquanto capinava os matos e mostrava um rosto de muita felicidade. Como sou muito observador e questionador fui perguntar ao trabalhador porque ele estava tão feliz e ele parou de assobiar, sorriu e disse-me que naquele dia tinha sido pai pela primeira vez e não aguentava de tanta felicidade. Não me contive, dei-lhe um enorme abraço e muitas felicitações e pedi a ele que jamais deixasse de ser feliz.
Entrei para trabalhar com aquela canção do trabalhador na mente e inesperadamente comecei a assobiar a mesma canção sob os olhares apreensivos dos meus colegas de serviço.