A sociedade em estado terminal
Muitas noções que julgamos verdadeiras e interiores a nós, na realidade, constituem apenas conhecimento pronto, adquiridos pelos indivíduos através das diversas formas de convívio social- educação, vida em família, na igreja... Segundo Durkheim, o fato social- como assim denomina todos os ideais relacionados à vida em sociedade- são exteriores aos indivíduos. Sendo assim não são criados por nós, nos transcendem, são superiores ao individuo. Outra peculiaridade do fato social, é que nos é coercitivo, ou seja, não o absorvemos naturalmente, mas sim por uma força externa.
Pareceu-me necessário a utilização do contexto sociológico para assim chegar ao ponto crucial que hoje me incomoda. Com ele, eu já deveria estar acostumada, mas tenho um certo receio em torna-lo tão banal. Sem mais voltas, o que me vem em mente é a facilidade com que nos submetemos a valores, ideias, conceitos, sem as vezes nem mesmo nos perceber. Está mais que claro que atualmente o tempo é um dos recursos mais escassos que possuímos, mas apesar de sentimos isso cotidianamente, nada é feito para aumenta-lo. Não quero citar aqui os diversos manuais dos quais nossas livrarias estão cheias, que tem como simples objetivo “aproveite o seu tempo, 10 maneiras de controlar a sua vida, como alcançar o sucesso em uma semana”. Se dermos um pouco de atenção a esse assunto – quero dizer, se ainda podemos gastar esse precioso tempo para entender coisas que não nos são cordialmente explicadas- todas essas questões refletem uma única característica das sociedades modernas: o imediatismo. Até mesmo quando, por exemplo, sentimos que estamos no lugar errado- seja no local de trabalho, família, ambiente de estudo- e nos fazemos uma simples e angustiante pergunta : o que eu estou fazendo aqui ? Apenas quem já a fez sabe o que ela traz como consequência. Não é que o ambiente em que nos entramos seja ruim ou repugnante, nada disso. Talvez ele seja ótimo, talvez seja um dos mais desejados por grande parte da população, talvez ele possua enorme prestigio. Entretanto, ele pode ser mesmo tudo isso, mas não para mim, ou para você. Sabemos que não é incomum, pessoas que chegaram ao ápice de suas carreiras, família, estudo sentirem-se deslocados. Como se tudo aquilo não fosse dotado de sentido. Fosse sim, muito bom. Mas não para ele. Talvez alguns já tenham entendido o que esse circuito de pensamento relacionado ao escasso tempo terá de desfecho. E se tivéssemos tido mais tempo para refletir sobre qual decisão tomar, se a sociedade tivesse nos dado a oportunidade de pensarmos por nós próprios antes de nos impor suas verdades obsoletas? Será que se todo o processo tivesse sido feito com mais cautela precisaríamos mesmo recorrer às livrarias ou até mesmo banca de revistas para a sessão de auto-ajuda ? Aqui eu não critico de maneira alguma esses milhares de livros que tentam nos fornecer respostas rápidas para nosso grande problema. Apenas acredito na ideia de que, mas importante que a busca de uma cura, um remédio, é a precaução, a prevenção dessa doença. E a nossa sociedade realmente se encontra nesse estado, de doentes terminais. Caso não se encontre rapidamente uma quantidade razoável de antídotos, – pois aqui tratamos de uma epidemia geral- que possa nos acalmar e garantir nosso sossego, a situação só tende a se agravar.