DUM ETERNO CORAÇÃO DE MÃE:
Nesses presentes dias de modernidade, nos quais a ciência da informação nos permite que em poucos segundos alcancemos nosso incrível "reality mundo" com as mãos, é quase impossível não ficarmos a par das principais notícias do planeta, ainda que algumas delas nos provoquem certo inconformismo e repulsa no sentido de que seria melhor não tomarmos conhecimentos de certas tragédias.
Algumas notícias nos assustam e doem demais.
Enfim, o Brasil nos últimos dois dias infelizmente se movimenta em torno das expectativas e das tristes notícias do acidente do Pedro, o também cantor e jovem filho do cantor sertanejo Leonardo e dos cinco universitários que perderam bruscamente a vida, todos eles em acidentes automobilísticos pelas estradas do Brasil.
Confesso que as notícias mexeram comigo a me provocarem uma boa dose de angústia, não apenas pelo sentimento de ser humano que todos temos, mas principalmente pelo sentimento de mãe.
Quem é mãe vai sentir melhor o âmago do meu texto.
O ocorrido levanta várias questões a serem debatidas na sociedade e talvez a mais importante delas seja o fato de que os nossos jovens estão morrendo nas estradas duma forma incontrolável.
Na população até os trinta anos de idade as mortes explodem por causas externas, mortes violentas, aquelas que não são provocadas por doença natural e que computam dados da violência social de toda sorte, principalmente nas grandes capitais do país.
Homicídios e acidentes entre nós ganham o ranking das causas que ceifam precocemente as vidas e é certo que algo precise ser feito urgentemente para que prontamente se diminua tantas tragédias nas nossas cidades e nas nossas estradas.
Por outro lado quero falar de algo mais abstrato, do meu sentimento de mãe, e claro, aqui estou a me solidarizar com todas as mães que passam por tamanha aflição.
Existe um ditado popular, e quem sempre me lê sabe que sou chegada num dito do povo porque sempre são muito sábios, que nos ensina que "FILHO CRIADO É TRABALHO DOBRADO".
Que grande verdade!
E obviamente que não estou eu aqui a criticar os filhos, longe disso, mas estou aqui para defender a difícil missão de se ser mãe, ou melhor dizendo, a difícil missão de se ser "pais" num mundo como o de hoje, neste de tanta agitação e de tanta "convocação!".
Todavia falo aqui da minha porção "mulher-mãe".
Às vezes tenho a impressão que a Terra gira tão depressa que não consigo acompanhá-la na minha impotente condição de mãe.
Não sei se o mundo de antigamente provocava tanta preocupação a quem tem um filho, mas fato é que o mundo de hoje preocupa demais.
Quando nosso filhos são pequeninos, ou mesmo logo que a maternidade se nos anuncia, temos a forte fantasia de que aquele pequeno ser que cresce dentro da gente, paradoxalmente, será para sempre bem pequeno e apenas nosso, e que absolutamente nada interferirá no caminho deles sem antes passar pelo nosso crivo.
Ledo engano!
O tempo voa, passamos a maior parte dele na correria da educação dos filhotes, a procura do melhor caminho para eles, na busca incessante por mais acertos ou por menos erros, (filhos nunca portam manuais de melhor comando!) sem dizer que hoje também saímos fora do lar na difícil luta pela vida e quando nos damos conta... o tempo passou.
Passou tanto que eles, os filhos, assumem uma identidade própria tão rapidamente independente todavia nem sempre com o justo e maduro entendimento compatível e condescendente às nossas tantas preocupações de mães.
Preocupações que não são de ensejos fantasiosos, são pertinentes ao mundo violento em que vivemos.
Fato que é na maioria das vezes os filhos não nos ouvem e nos acham uns chatos! É verdade, somos mesmo.
Têm a unipotência da juventude e a perigosa fantasia de que com eles nada de mal lhes acontece.
Em pouco tempo nos tornamos caretas, demodês, invasivos, agourentos, alguém como uma pedrinha nos sapatos deles, a tal "pedra no caminho" que só está ali para dificultar o seu prosseguir.
Qual a mãe que num momento da vida não se desespera por já sentir que não comanda mais o seu "adolescente " voluntarioso?
Ou o seu tão jovem rebento que parte para a vida ainda não de todo preparado para ela?
Ou mesmo que parte para uma simples balada do fim de semana achando que o mundo sempre estará a seu favor, apesar de todas as suas facilitações de comportamento aos perigos do meio?
Sinceramente, conversando com tantas mães, eu nunca encontrei uma que fosse totalmente "descolada", é assim que eles dizem, "descola de mim, mãe,já sei me cuidar!". E como explicar que o que enxergamos não é bem aquilo?
E como é difícil descolar! É necessário, sei que é, mas é muito difícil.
Eu se pudesse seria uma eterna mãe "super- bonder!"
Penso que toda mãe é, POR NATUREZA, como uma armadura perene, uma redoma humana e impotente postada frente a qualquer perigo que possa alcançar seus filhotes...a qualquer tempo.
É do instinto de mãe, é do amor incondicional de mãe, mas observo que filho algum alcança com clareza o cerne da nossa dificuldade.
Porque só existe um ser nesse mundo que tem a capacidade de sentir pelo outro, de vivenciar a dor do outro, e esse ser chama-se mãe.
Eternamente mãe... dos eternamente seus filhos.
É exatamente por isso que me angustio com as notícias de hoje, a muito lamentar pelas mães que perderam seus filhos e a torcer pelo milagre da recuperação do João: talvez pela percepção de mãe é que hoje faço do meu exatamente o mesmo coração de todas essas mães.
Só Deus para confortar tantos maternos corações...tão impotentes e angustiados...pelo tempo que não pára.