O cachorro ou o livro ?

     Deixei Salvador, faz mais de uma semana.
     Neste momento, perambulo pelas ruas de Vila velha, essa simpática cidade capixaba, abençoada por Nossa Senhora da Penha, sua padroeira.
     Há pouco, estive no Convento da Penha, um santuário fundado, em 1558, pelo frade franciscano Frei Pedro Palácios. 
     O Convento fica no ponto mais alto de Vila velha. Dizem que a 500 metros do mar. 
     Construído num íngreme penhasco, de seus mirantes tem-se as mais belas vistas das cidades de Vitória e Vila velha, que se unem através de uma majestosa ponte. 
     Longe de Salvador, longe dos meus livros: sinto falta deles. Não fosse o meu notebook, que me acompanha em todas as minhas viagens, morreria de saudades deles.
     Sem os livros, o note quebra o galho.
    A propósito do meu notebook, me deixem contar uma coisa que, até agora, só meus parentes mais próximos sabiam. 
     Pedi-lhes que o colocasse, no meu caixão mortuário, entre minhas mãos, não importando a sua higidez cadavérica. E brinquei: No outro mundo, se me derem uma chance, prometo escrever algumas crônicas dizendo o que acontece por lá. Nem todos, claro, acolheram minha proposta.
     Queria, porém, dizer, que nada (nem o Note) substitui o manuseio de um livro. É maravilhoso abraçá-lo, agarrá-lo com as duas mãos, sentir seu cheiro; como a gente faz com uma pessoa que se quer bem...
     Muito bem. Escrevo hoje sobre o livro, para prestar-lhe minha homenagem. No dia 23 de abri  foi o seu dia: o Dia Mundial do Livro.
     Vale recordar, que essa homenagem teve origem na Catalunia. E acontecia no dia 7 de outubro, data de nascimento de Cervantes.
     Tempos depois, a UNESCO mudou, para 23 de abril, data do falecimento do autor de Dom Quixote.  Aniversário, também, da morte  de grandes escritores, entre eles,  Shakespeare. 
     E agora o porquê do título que dei a esta  crônica. Lendo Lotte & Zweig, do Deoníso da Silva, descobri este parágrafo, que até me surpreendeu:
     "Escritor é viciado em livros. Não apenas os escreve, mas os lê, ama, convive com eles como se fossem amigos. O melhor amigo do ser humano não é o cachorro, é o livro." Até concordo. 
     Mas, com certeza, nem todo mundo pensa assim. Há os que dão a vida por seus cachorros.  
     Uma coisa, porém, é irrefutável: o livro é um excelente amigo. Está sempre à nossa espera e à nossa inteira disposição, às vezes, de graça.
      Que me perdoem os nossos cães, que, nem por isso, deixam de ser bons amigos do homem.
     
Felipe Jucá
Enviado por Felipe Jucá em 25/04/2012
Reeditado em 17/04/2014
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