ANJOS DO MAR ( Homenagem a Alvares de Azevedo)
As ondas são anjos que dormem no mar,
Que tremem, palpitam, banhados de luz...
São anjos que dormem, a rir e sonhar
E em leito d’escuma revolvem-se nus!
E quando, de noite, vem pálida a lua
Seus raios incertos tremer, pratear...
E a trança luzente da nuvem flutua...
As ondas são anjos que dormem no mar!
Que dormem, que sonham... e o vento dos céus
Vem tépido, à noite, nos seios beijar!...
São meigos anjinhos, são filhos de Deus,
Que ao fresco se embalam do seio do mar!
E quando nas águas os ventos suspiram,
São puros fervores de ventos e mar...
São beijos que queimam... e as noites deliram
E os pobres anjinhos estão a chorar!
Ai! quando tu sentes dos mares na flor
Os ventos e vagas gemer, palpitar...
Por que não consentes, num beijo de amor,
Que eu diga-te os sonhos dos anjos do mar?
(Anjos do Mar, página 7 - Lira dos Vinte Anos - Álvares de Azevedo)
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Uma homenagem sincera à memória de Manuel Antonio Álvares de Azevedo (S.Paulo 12/09/1831 - Rio de Janeiro 25/04/1852), escritor, contista, dramaturgo, poeta, ensaista e, acima de tudo, um ser vibrante e apaixonado que povoou de sonhos e de lirismo a alma do povo brasileiro e do mundo inteiro.
Faleceu prematuramente, aos 20 anos e a sua obra ,abaixo citada ,foi publicada apenas após a sua morte:
Lira dos Vinte Anos - 1853 - poesias
Macário 1855 - teatro
Noite na Taverna 1855 - conto
O Conde Lopo 1886 - poema épico.
Também escreveu cartas e ensaios, traduziu para o português "Parisina" de Lord BYron e o "Quinto ato de Otelo " de Shakespeare.
Num mundo tão desprovido de boas memórias, reverenciemos este brasileiro que tão jovem tornou-se imortal e deve ser motivo de orgulho e patrimônio de nossa nação.
Patrono da Cadeira 2 da Academia Brasileira de Letras
Viva o poeta Álvares de Azevedo, eternamente, em nossos corações!
Maria do Socorro Domingos dos Santos Silva
João Pessoa, 25/04/2012