SUÍTE DE CARPINTEIRO
Chegou dezembro. Começam os preparativos para o grande dia.
As ruas abarrotadas de pessoas que formigam como operárias por todos os cantos.
As lojas se enchem de artigos para presentes. É chegada a hora de se lembrar daqueles dos quais nos esquecemos por um longo tempo, aos quais não fizemos uma visita, não convidamos a virem à nossa casa, não telefonamos não enviamos nem sequer uma carta.
Aliás, o dia do natal deveria se chamar dia dos esquecidos. Cada lâmpada cintilante na árvore deveria ser para nos lembrar que assim que se apagarem tudo continuará a existir. Os dias, as noites, as tristezas e alegrias. Os sentimentos não se vão com o apagar das luzes.
Tudo está preparado: os presentes, a árvore a ceia, tudo planejado nos mínimos detalhes.
As casas mais parecem constelações, de onde lumes de estrelas ofuscam quaisquer outros brilhos remanescentes.
Vamos comer, beber, extravasar, até que esqueçamos o que estamos comemorando, é sempre assim.
Em meio a tanto luxo e fartura às vezes nos foge à memória que o aniversariante é de origem humilde, seu leito era forrado de palha...Sua suíte era uma estrebaria.
Saulo Campos
Itabira MG