MEU PRIMEIRO CELULAR

Há a necessidade de estarmos “antenados” com as novas Tecnologias e quando eu pensei que já tinham inventado quase tudo nesta vida surge este maravilhoso aparelhinho chamado celular.

Quando os primeiros equipamentos apareceram por aqui em 1.997 eu tinha um velho “BIP” que utilizava para manter contatos com meus clientes de Plano de Saúde. Mas meu verdadeiro plano era sair dos “Planos de Saúde” e migrar para outra atividade qualquer e foi nesta época que surgiu a oportunidade de vender Cartões de Visita.

Os clientes “bipavam”,eu anotava o número e corria até um orelhão para retornar o chamado e acertar uma visita. Era muito triste estar bebendo uma cerveja bem gelada numa galeria qualquer do centro de Sampa, receber um chamado via “BIP” e ter que sair correndo para não perder o cliente e deixar o copo quase cheio sobre o balcão da lanchonete. Aquilo me deixava muito triste e eu fazia planos para adquirir um aparelho celular o mais breve possível.

Comecei a vender cartões de visitas para o Luis, dono de uma gráfica digital que tinha um escritório na Rua Sete de Abril, no centro de São Paulo, bem em frente a TELESP, o que aguçava ainda mais minha vontade de ter o tal do celular. Mas nunca sobrava dinheiro suficiente para comprar o tal do aparelho, visto que o equipamento custava muito caro. E lá eu ia seguindo com meu velho aparelhinho BIP e sempre sonhando em fazer uma boa venda de cartões para adquirir um celular, até que num determinado dia a sorte resolveu acompanhar-me e sai de casa de madrugada para oferecer meus cartões de visitas para os camelôs da Rua Vinte e Cinco de Março, na antiga e surpreendente Feirinha da Madrugada.

Lá pelas dez horas da manhã de um determinado dia já tinha vendido vários cartões e ia embora quando fui abordado por um camelô pedindo se eu poderia fazer apenas cem cartões de visita para ele, disse educadamente que só vendia múltiplos de mil, ou seja: mil, dois mil e assim por diante e ele disse que os produtos que ele comercializava eram poucos e não havia clientes suficientes para poder fazer um pedido de mil cartões. Foi então que fiz uma brincadeira com ele e disse:

- Olha amigo, só faço cem cartões pra você se você apresentar-me um próspero comerciante que faça dez mil cartões comigo.

Ele riu humildemente, colocou a mão no queixo e ficou pensativo até que inesperadamente disse:

- Pois é senhor vendedor de cartões, tenho um primo que é muito rico e vou dar o endereço dele para o senhor fazer uma visita, quem sabe ele faça alguns cartões com o senhor! Mas preciso de cem cartões!

Passei a mão no meu bloquinho de pedidos e imediatamente anotei o pedido de cem cartões para o humilde camelô. Sabia que não poderia apresentar apenas um pedido de cem cartões e tinha resolvido que iria fazer mil cartões e arcaria com o resto do custo. Coloquei o endereço do primo rico no bolso e segui meu caminho e quando estava dentro da estação São Bento do Metrô, resolvi voltar e ir até o tal do primo rico ver se conseguia mais um significante pedido de cartões de visita.

Quando cheguei em frente ao endereço, fiquei muito surpreso, pois eu estava em frente a um shopping, peguei o elevador e apresentei-me a secretária e ela pediu que eu aguardasse alguns minutos que ela iria anunciar-me ao próspero comerciante.

Entrei e apresentei-me ao “Primo rico” do comerciante da rua vinte e cinco de Março e ele cordialmente perguntou-me:

- Quem enviou você até aqui? E eu contei toda a história dos cartões e que ele tinha um primo que vendia alguns carrinhos de plásticos e foi exatamente aquele primo que pediu para eu ir falar com ele.

O comerciante sorriu e levantou-se da cadeira e disse:

- Onde está este querido primo que não o vejo faz anos! Dei o endereço a ele e o comerciante encomendou quarenta mil cartões para uma nova loja que ele estava inaugurando sobre artigos exotéricos.

Como o Luis, dono da gráfica não fazia aquele tipo de cartões encomendados, procurei um amigo que tinha uma gráfica com várias máquinas no Tatuapé e ele fez os cartões.

O dono da gráfica do Tatuapé entregou os cartões ao rico comerciante e pediu para eu passar na gráfica para receber minha comissão e ele foi logo dizendo:

- Muito obrigado pelo pedido, quanto lhe devo?

Eu zombando, brinquei dizendo que precisava de dinheiro suficiente para comprar um bom celular, pois estava cansado de tanto usar meu simples “BIP”, ele sorriu e deu uma quantia que dava pra comprar dois celulares. E lá fui eu para a região da Rua Santa Efigênia comprar meu primeiro celular. Era enorme, parecia um tijolo, pesado, mas... funcionava!

Sai da loja todo encantado com meu celular e liguei pra todos os meus contatos e acabei com todo meu crédito. A partir deste dia andava com meu pesado celular preso a minha cinta e sempre que precisava telefonar usava-o e ficava agradecendo aquele humilde camelô que tinha proporcionado tal conforto.

Depois muitos outros celulares eu tive, mas este conseguido com uma brincadeira serviu-me de lição: Nunca duvide de uma pessoa por sua insignificante posição social, pois ela pode surpreender você a qualquer momento, assim como aconteceu comigo e a partir deste dia passei a não duvidar de mais ninguém nesta vida. E viva o Celular!

LUCASI
Enviado por LUCASI em 25/04/2012
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