Após a cirurgia.
Estava lá, deitada naquele leito, entorpecida ainda pela anestesia e sem saber ao certo me localizar no espaço e tempo. Minha irmã chorava baixinho ao meu lado. Embora "dormindo", eu ouvia e sentia seu choro e não entendia porque.
Quando enfim despertei, a vi enchugando o rosto e forçando um sorriso para me animar.
_ Correu tudo bem em sua cirurgia, Tina! Creio que você terá alta logo...
_ Que bom! Digo isso tentando levantar-me, mas lateja-me a cabeça e, então deito novamente. Passo a mão nos meus seios e sinto o vazio no lado esquerdo, e então compreendo as lágrimas de minha irmã, que também, agora são minhas.
Eu sabia o que iria acontecer, mas a constatação da realidade, ainda que previamente sabida, não diminui a dor. Não fez eu me sentir menos mutilada... Faltava-me uma parte do meu corpo que, de certa forma, ou melhor, de uma importante forma, castrou minha feminilidade, pois era o seio que iluminou o princípio de minha vaidade feminina ao desabrochar em botão, dentro de meu primeiro soutien; o seio que acalentou as ânsias de meu homem nos momentos de prazer quando desabotoava-me a blusa e invadia lascivamente minha intimidade; o seio que alimentou meus filhos com a seiva da vida em forma de leite materno...
Ai, como doeu a constatação: No lugar, estava ali uma cicatriz, um vazio, uma dor latente...
Não era uma dor física, eu ainda estava sob alguns efeitos da anestesia,...antes, era uma dor na alma, no meu ego de mulher mutilada...
Para diminuir essa dor, eu repetia para o meu cérebro aceitar: Estou viva, isso que importa, estou viva!... Porém, ainda assim, a dor persistia em ficar ali, mostrando-me a falta que me fazia aquela parte de meu corpo...
Relembrar isso hoje é como realizar uma catarse.
O cancêr foi retirado de meu corpo, eu estou viva... Falta-me um seio, aquele da minha vaidade feminina, do prazer do meu amor, da fonte de vida e carinho dos meus filhos... Mas estou viva!
Não me lamento, estou viva!
Não choro mais,... estou viva!
Só não posso me eximir de falar às minha amigas mulheres uma coisa: O câncer de mama não escolhe cor, idade, religião, nacionalidade, nem classe social... qualquer uma pode ter se não se cuidar, e aquela que não se cuidar, não perde somente a mama, mas a vida.
Cuidem-se, previnam-se...
É tão bom colocar um decote bonito e sedutor; é tão gostoso receber carinho nos seios e saber que nosso amado sente-se envolvido fortemente nesse toque; é tão sublime amamentar ao filho, é confortante olhar no espelho e sentir o poder dessas aljavas armadas para a sedução... e por fim, é altamente traumatizante viver sem um deles... Por isso, amigas, cuidem-se!
Não reclamo,... estou viva!
Não choro... estou viva!
Irene Cristina dos Santos Costa - Nina Costa, 25/04/2012