SOMOS ILHAS

Não sou uma ilha qualquer perdida num universo silencioso e surdo encravado em meio às inúmeras galáxias desse complexo e desconhecido Cosmos, mas se o sou, não voltado ao mutismo posto que grito meu anelo por companhia, que eu seja um território muito habitado, ruidoso, festivo, sobremaneira alegre, pisado cotidianamente por pés amorosos, vestido com muitos e fervorosos sorrisos, abraçado pelo constante calor da presença carinhosa e inefável da mulher a quem amo. Já que sou ilha, não por escolha própria mas em razão das características inerentes ao ser humano, agradeço a Deus por ter braços para abraçar, lábios para beijar e olhos para ver, admirar e sorrir com intensidade.

Porque, na verdade, somos bilhões de ilhas ligadas por istmos, braços de terra, pontes que vamos construindo dia após dia, já que necessitamos dessa união quase umbilical por força de nossos anseios fraternais e românticos. Assim, as construímos por sermos aversos à solidão, por querermos estar juntinho de quem nos é semelhante e gosta de nossa presença, de estar conosco compartilhando o pulsar da vida. Somos ilhas ansiosas por companhia, pois nossos corações nunca desejaram ser ilhas num vasto oceano de individualidade. Gostaríamos de ter nascido na companhia de alguém e, no limiar do portal que nos levará para a eternidade, também quiséramos ir acompanhados. Em não sendo isso possível, sejamos ilhas que se amam e desejam ardorosamente estar ao lado de quem amamos.

E nessa multidão de ilhas ambulantes, em que cada uma delas é um mar de pensamentos, conceitos, cogitações e sonhos, e apesar disso, passamos a vida inteira à procura de instantes agregados, de amigos diversos em derredor, de amores para nos completar porque ninguém sozinho é feliz, embora alguns teimosamente tentem sem sucesso, de olhares simpáticos que amenizem os problemas corriqueiros, de mãos, tantas e tantas quantas possíveis, para segurar carinhosamente as nossas, afagar nossos corpos, fazer aqueles cafunés deliciosos e inesquecíveis, de ombros fraternos calcados na amizade onde possamos chorar nossas mágoas, tristezas e lamentos.

Sim, somos ilhas vivendo sob o mesmo teto, a mesma cidade, o mesmo país, formando grandes nações, criando culturas e hábitos que nos diferenciam por vírgulas, pontos, sabedoria popular, danças, músicas e costumes, com devaneios muitas vezes parecidos, buscando realidades que aqui e ali nos aproximam, procurando desesperadamente concretizar o sonho maior que é de todos: a felicidade, que nem sabemos bem como é nem de que é realmente composta, sem perceber tratar-se apenas e tão-somente dum sonho lindo do qual jamais queremos despertar.

Gilbamar de Oliveira Bezerra
Enviado por Gilbamar de Oliveira Bezerra em 24/04/2012
Código do texto: T3631655
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