A luta com o guarda-roupa

Drama de uma dona de casa desesperada:

É o desafio da mudança de estação-cedo ou tarde meu dever de ajustar contas com o velho guarda-roupa,onde reciclar qualquer vestido por melhor que seja a minha intenção acaba se tornando uma verdadeira luta titânica.E,quando tudo parece estar em ordem eis o segundo round-os protestos da família!

Foi assim que um dia desses agredí fisicamente um armário.Sabem um daqueles bem grandes que vai até o teto e que é necessário o cavalete para se alcançar a última prateleira?

Estou falando do guarda-roupa que fica no quarto das crianças-o pior.Refúgio Pecatorium,assim chama minha sogra, esses objetos domésticos em que se acumulam as roupas em desuso das crianças,aqueles meus vestidinhos 'pp' de um tempo que não voltará nunca mais e,ainda o terno de linho na cor bege do marido,comprado sem dúvidas num estado de confusão mental.Por não falar naquele outro paletó, naquela gravata e sapatos que por sorte minha nunca o ví vestido neles porque só em pensar me faz imaginar um personagem saído de um filme de Al Capone.Mas,o terno continua novinho em folha,nunca foi usado.No instante em que manifestei minha opinião crítica a esse respeito o proprietário com sua sana e bem humorada auto-ironia disse ter bem em mente a ocasião para portá-lo consigo-na última viagem que fizesse.Só mesmo ele para me fazer rir num momento desses de suor e cansaço.

Dizem que há donas de casa que conseguem manter a ordem perfeita nos seus guarda-roupas,tudo bem dobrado e no lugar certo.Deve ser verdade,lí também em alguns sites e blogs sugestões de como conseguir isso.Porém,com 38 anos chego à conclusão que por razões genéticas não consigo ser organizada nesse aspecto e até me sinto conformada com isso,pelas outras prioridades que tenho estabelecído no meu cotidiano.Todavia,uma vez perdida,coincidindo com a mudança de estação,é preciso enfrentar aquele monstro que é o guarda-roupa grande.

Aproximando-me com toda disposição conquistada após prévia preparação psíquica,dias e dias passando por ele,fixando-o e dizendo: - amanhã,vai ser amanhã.Abro com muito cuidado uma das portas corrediças que faz resistência porque como era de supor algo a impede de abrir facilmente.Empurro devagar.-"Meninos o que foi que vocês colocaram aqui dentro?!"Grito.Silêncio:ele está desenhando na sala e ela brincando na casinha que inventou na cozinha( merece outro post sobre isso).Talvez nem caindo em cima de mim alguém se moveria para me acudir.Foi meu pensamento imediato.

Empurro com maior firmeza e o armário se abre,caindo sobre minha cabeça um casaco de lã mal dobrado e colocado de qualquer modo ali dentro.Deveria deixar tudo como estava e esperar pelo outro adulto da casa me dar uma mão na faxina.Mas,essa batalha tinha mesmo que ser minha!Calma,digo agora baixinho:"-Você se propôs uma meta,aliás,um desafio,portanto,não se distraia!"

Desfaço pacientemente os meteoritos de camisetas.A seguir passando às gavetas debaixo,retirando cada uma, lotadas de conjuntinhos(tute) de tamanhos 5 e 3 anos,inúteis de conservar.Procedendo cientificamente:num saco grande as coisas que vão para a Cáritas,outro para onde vai o que não serve mais de nenhuma maneira porque está muito consumido,estragado.Até parece que o guarda-roupa finalmente quase esvaziado, respire e seja grato.

Passando à parte superior subo no cavalete com aqueles pensamentos dramáticos de que podeira cair e fraturar um osso.Contudo,ninguém me impede!Tornou-se um verdadeiro e próprio duelo entre nós dois e,nessa "eu me sairei melhor do que você",intimido o armário.

Opa!Aqui está também o tailleur que usei no casamento civil e os primeiros sapatinhos dos meninos.Ponderando respeitosamente afirmo que não se poderia tocar neles.À direita,porém sim,aquelas horrorosas bermudas havaianas devem absolutamente desaparecer da minha vista.E aquela velha jaqueta embutida de pêlo falso,boa para a próxima glaciação e as blusas que não vou mais usar,mas que foram presente de minha mãe...Ainda em cima do cavalete titubeante permaneço diante daquele armário que não se deixa abater.

Há alguma coisa lá fundo perto da parede ainda?Alongando o braço sem olhar toco com a ponta dos dedos um objeto fofo,macio,de pelúcia e não erro na suposição porque era exatamente um cachorrinho muito querido da Chiara que por muito tempo tinha se lamentado sentindo a sua falta e mesmo muito procurando não conseguíamos descobrir seu paradeiro.Mistério resolvido!A casa esconde mas não rouba!Esse foi direto pra máquina de lavar e com certeza vai ser uma bela surpresa pra ela quando o vir na sua caminha antes de dormir.

Finalmente saio do quarto toda suada,encurvada e com os sacos abarrotados como os da bruxinha befana.

-"Aquele guarda-roupa de vocês!"Ele simplesmente me olha sorrindo e eu digo que é melhor deixar para lá!Vou diretamente para o banheiro e me concedo uma merecida pausa com um delicioso banho relaxante.Somente durante o jantar faço o relatório completo do acontecimento com direito a reclamação:'Mamma,in questa ordine non si trova più niente!'(Mãe nessa ordem não se encontra mais nada!)Não tenho nem mesmo coragem pra replicar ao menino fedelho.Dou uma boa risada pois ele é mesmo igualzinho à mamãe. Então,por hora não há nada a ser feito a esse respeito!

Bergilde
Enviado por Bergilde em 24/04/2012
Código do texto: T3630810
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