As férias do mundo

Passei a tarde sentindo a correnteza, suas ondulações, os raios de sol salpicando e dourando toda a água. As pedras banhando-se com toda aquela leveza que o rio trazia.

Era muito verde. Era muito azul. Não tinha vento, apenas canto de pássaro, barulho bom de cachoeira, de quedinhas d'água. Minha respiração leve, calma, dava até pra sentir minhas energias recarregarem lentamente.

Um floco de nuvem aqui, um borrão de azul ali. Um vento tímido embala meus cabelos, brinca com um cachinho, lança no meu rosto um frescor tenso, rápido, ligeiro.

Parece até que o mundo parou. Ficou quieto e respirou fundo. Deixou toda angústia de lado. Tomou um banho de cachoeira, desceu rio a nado, escalou árvores e comeu fruta no pé. Saiu correndo feito criança atrás de bola e, na hora de voltar pra casa, ficou com preguiça. Deitou numa rede de beira e ficou vendo tudo passar por ele. Sem pressa. Se apegou ao ir e vir da água na areia e deixou escapar um soninho de fim de tarde. Sonhou e acreditou que era tudo mentira. Que não havia rio. Que não se banhara ali. Que não havia violência. Fome. Miséria. Seca. Decidiu se afundar no sono. Passou a viver de verdades. Esqueceu de voltar.

Quem dera se fosse verdade: O mundo se esquecer de ser mundo e deixar a turbulência dos nossos dias se perder em algum conto de mata.

AnaNunes
Enviado por AnaNunes em 24/04/2012
Código do texto: T3630615
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