Os segredos do amor...
Espaço do Rui
Os segredos do amor...
Rui Batista de Albuquerque Martins
Quando Roberto Carlos deixou de imitar Bob Nelson em programas de calouros e iniciou sua carreira cantando em circos do interior, fui vê-lo no Circo Guaraciaba, do inesquecível Pirulito. Eu e mais dois jovens: Nelson Antunes Galvão e Carlos Eduardo Ferreira Martins. Ele chegou num fuscão branco, envenenado, rodas tala-larga, cara e jeito de menino.
Provocou gritos na platéia e agradou. Muito. Declamou “O que é que você tem”, cantou “Calhambeque”, “A história de um homem mau” e outras músicas do seu pequeno repertório da época. Uma delas dizia: “Hoje, vem amor, vem amar/ os meus lábios te esperam/ Te querendo beijar./ Amanhã, estaremos velhinhos/ e cantaremos juntinhos/ os segredos do amor, os segredos do amor/ Para os nossos netinhos”.
A canção, simples e suave, procurava estimular aquela geração a vivenciar os mistérios e as delícias do amor. Roberto Carlos sempre foi um grande sonhador como tantos outros poetas que se inspiram no mais valioso sentimento humano.
Ovídio Nasão, poeta romano, estava com 42 anos de idade um ano antes de Cristo nascer, quando decidiu ensinar aos homens os segredos do amor, através do poema “A arte de amar”. Para o Ovídio, de “mais de dois mil anos atrás”, o homem só pode dominar essa arte se não for covarde. O primeiro segredo é ter solicitude, ou seja, ser dedicado, interessado, generoso à pessoa amada. “Será mais fácil que os pássaros emudeçam na primavera ou as cigarras no verão do que uma mulher resistir à carinhosa solicitude de um homem”;
Segundo: agir como apaixonado, transmitindo que está perdido de amor. “Como toda mulher se julga digna de ser amada, ser-te-á fácil ser acreditado”. Terceiro, “Quando tiveres razão para julgar conveniente que ela vá sentir saudades tuas, e que a tua ausência lhe cause inquietação, dá-lhe um descanso. Cuida, todavia, que a tua ausência seja breve; com o tempo a saudade diminui, apaga-se a lembrança do ausente e um novo amor se insinua”. Quarto: “Não ostentes em vão teus recursos, nem faças alarde da eloqüência. Elimina do teu falar todo o acento de pedantismo. Poderá alguém que esteja no seu juízo declamar seu amor com palavras complicadas à sua amada? Escreve de modo natural, com palavras comuns mas ternas, escreve como se estivesses falando”; Quinto: “Nada tens a perder se a deixares convencida de que tem grande poder sobre ti”; Sexto: “Promete sem timidez, pois as promessas prendem as mulheres”; Sétimo, “Aos homens só convém uma beleza sem enfeites –
Devem agradar apenas pela elegância discreta; não cries o hábito de frisar o cabelo a ferro, nem alises com pedras-pomes as pernas”. Oitavo: “Se queres conservar o amor, faze-a acreditar que estás maravilhado com sua beleza – Se te apresenta vestida com uma simples túnica, exclama: tu me abrasas!”. Nono: “Lágrimas também são úteis; com elas amaciarás até o diamante.
Cuida para que a tua amada veja o pranto no teu rosto. Se as lágrimas te faltarem (porque nem sempre obedecem a nossa vontade), molha os olhos com as mãos”. Décimo: “O amor é uma espécie de serviço militar – Nos campos do prazer, nossas provações são à noite, o inverno, as longas marchas, os caminhos fragosos. Terás muitas vezes de suportar a copiosa chuva e, morto de frio, terás de dormir sobre a terra nua”.
Que fera o Ovídio, não é mesmo? Ficam aí as suas lições, que a “Revista Veja” reproduziu.
E você pode aproveitá-las nestes dias de carnaval, onde as energias estão soltas e um clima de alegria toma conta de todos nós. Mas vá com calma, dominando os instintos e valorizando o amor. Aí sim se dará o grande encontro. E um dia você poderá contar os segredos do amor aos seus netinhos...
Rui Batista de Albuquerque Martins
é jornalista e publicitário
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Jornal Ipanema de 05 de fevereiro de 2005
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